Cheguei muda e me fiz raiz
Escolhi o terreno e me plantei em terra fértil
Enterrei o passado que se fez adubo
Cultivei a paciência da semente inexistente
Era muda, um pedaço do todo, retirada.
Mas vivenciei a terra e me enraizei
As raízes se infiltraram em busca da vida e filtraram a não-vida
Vivenciei a água e me ramifiquei
Saí à procura do alimento que me fortaleceu.
Me fiz tronco porque precisava buscar a luz
Lutei contra a gravidade
Venci
E, quando vi o sol, vivenciei o ar.
Expandi meus galhos sem limites
Expansão que me fez folhar
Me fiz folha com linhas sem métrica para escrever minha história
Esperei o calor e ele veio como fogo para me transformar.
Me fiz flor
Cheguei muda e floresci para que viessem os frutos
Cheguei muda e me fiz palavra
Palavra-semente.
O poema nasceu em terra adubada, quando estava plantando meu primeiro verde (ainda não foi uma árvore). Não havia semente, apenas uma muda de planta, um galho sem raiz. E do processo de pensar em como aquela muda se enraizaria brotaram as palavras. Eu e a muda viramos uma só. Ela brotou. Eu, também.
Talvez um poema que precise de explicações deixe de ser um poema e aceito o risco. Mas vi poesia também no plantar mágico. E o mais fascinante é descobrir que a magia não está com quem planta, vem de uma linguagem da própria Natureza. Cabe ao homem observar e aprender.
O poema que nasce deste aprendizado faz parte do livro “Permita-se florescer”, uma antologia organizada pela escritora e amiga Bibiana Danna e recém-publicada pela EHS Edições. O meu agradecimento a vocês pela oportunidade única. Dedico esse poema aos ensinamentos que venho recebendo da antroposofia que me ajudam a olhar para dentro e para fora de uma outra forma.
A chegada da primavera traz esse irrecusável convite para florescermos juntos.
*@tacianacollet é jornalista e uma das fundadoras do Vida de Adulto.