Eu passarinho
Andando pelas estradas movimentadas, correria, cheia de desejos, sonhos e medos que me davam equilíbrio, discernimento entre o perigo e a defesa.
Eu passarinho, andando entre meus sonhos e meus enganos, encontrei um ninho lindo e aconchegante, nele eu podia ser aquilo que não era; seria aquele que os outros esperavam, seria aquilo que eu achava que era, sem olhar profundamente para dentro de mim e para os sentimentos gerados na alma.
O ninho no começo era bem pequeno e me oferecia aconchego ou, na verdade, ocultava os meus próprios medos, falsa imagem de mim mesma, carência, culpa, tristeza…
O ninho foi ficando apertado e deixando de ser confortável, acolhedor, pois já não ouvia o bichinho a cantar dentro de mim seu canto encantador!
O meu fiel retrato estava se revelando e infelizmente não era de puro aconchego, era medo, não puro amor, era egoísmo. E meu ninho parecia ao mesmo tempo me sufocar e se desfazer como lã. Um dia o meu ninho se desfez como nuvem passageira… Não sei se era cedo ou tarde, mas senti frio e me vi sem nada, bem vazia.
Dentro de mim, restaram as raízes de alguém que realmente “sou”, mas que precisava descobrir. E, desse ninho, “eu” passarinho bati asas e voei, voei, voei… Estou no mundo “real” apenas rogando a Deus fé, coragem, perseverança para entender os motivos dos meus medos e não ocultá-los; para saber lidar com a luz e a sombra que me pertencem, para saber construir um homem novo, mas sem destruir o homem velho, eles se completam.
E assim seguir no bater das asas na imensidão do céu e dizer:
— Meu ninho, eu vou embora… Meu adeus.
*Dayse Ricardo dos Santos (@escritoradaysericardo), formada em pedagogia, graduada em psicopedagogia. É professora E.M.F. ,escritora infantojuvenil e poetisa. Autora dos livros Poesias Colhidas do Vento (2015) e Poesias são passarinhos (2018) ambos publicados pela Editora Scortecci.
