Mulher sem prazo de validade

Mulher de 50
Foto: Arquivo pessoal

*Christina Lemos

Para a única festa, digamos, de arromba, que dei na vida, mandei um convite dizendo algo assim: “venha brindar aos próximos 50 anos da Chris Lemos”. Na foto em preto e branco, eu aparecia erguendo uma taça de champanhe e exibindo um sorriso escancarado. Bem, anos depois – e já são vários – posso dizer que ainda não desfiz aquela cara. Nem terminei o brinde. Nem muito menos aceitei o rótulo de mulher de 50.

E olha que a vida já me deu cada baile!… Aliás, eu dancei estes bailes todos. Um tal de cai e levanta extenuante. Dançar e cair. É da vida.

Tanto melhor. A gente vai ficando mais bacana: mais consciente, solidária, tolerante com os defeitos – os próprios e os alheios. E principalmente capaz de acolher a inexperiência, a insegurança, de pegar pela mão, de dissipar o medo… Em uma palavra: de abraçar o outro. E a si próprio.

Aaaah, mas não pode isso. Não pode aquilo. Já está muito velha pra tal ou qual coisa. Para tudo! Deixa eu pegar minha taça de champanhe e o meu sorriso que não envelhece: aqui não vai ter etiqueta com prazo de validade.

Vai ter disposição para fazer um pouco mais. Mesmo que seja na minha própria medida. Cansei mais cedo? Descanso. Perdi a paciência? Procuro de novo até achar. Numa espécie de balé comigo mesma.

Mas e se as mais jovens se sentirem injustiçadas?

Compreensão. A juventude é lindamente impetuosa. Apressada e transbordante de energia. E a juventude não sabe, mais ainda tem muuuuuito tempo pela frente. Tempo para cair e levantar. E colher os frutos deste viver.

“Vem mais vida pela frente”, me disse uma vez mestre Gu, o célebre terapeuta chinês, quando eu ousei me entregar. Com o seu português possível, ele na verdade decretava: não desanime! Esperança! Se vem mais vida, tudo o mais virá. Outro dia, mais outro e mais outro. Transbordante de transformações. Um derramamento contínuo de novas versões de você mesma.

Há tanto, tantíssimo, a aprender. Aos 50, 60, 70 e mais. Dêem passagem para a beleza sempre nova que é a do porvir. Essa não definha.


*Chris Lemos é jornalista, professora e tagarela. Adora amigos, dança, cachorro e viagem. De vez em quando, leva umas rasteiras da vida, pra ficar esperta. E tenta ficar. Duas palavras: emoção intensa.

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