Derrubei um castelo para plantar uma cerca viva

Taciana Collet escreve o texto "Derrubei um castelo para plantar uma cerca viva"
Foto: Depositphotos

*Taciana Collet

Foram anos para construir um castelo, daqueles de contos de fada. Daqueles de príncipe e princesa felizes para sempre. Pedrinha após pedra e o castelo foi sendo erguido à perfeição dos meu sonhos. Castelo que me agradou por longos capítulos do conto, até que comecei a procurar defeitos na construção e na história.

Inventei de construir uma torre para enfeitar. Por falta de pedra e disposição de trabalho, usei areia mesmo e levantei a torre rapidinho. Pronto: era uma vez, uma envelhecida princesa que se isolava na torre de areia do castelo. Lá fui ficando sozinha porque a vista me encantava demais.

Encantava tanto que chegou uma hora que quis descer da torre para desbravar o visto lá de cima. Passava os dias fora e, quando voltava, sentia o castelo desconfortável e pequeno demais.

Me convenci de que o problema estava na construção e parti para derrubar o castelo.

Com a torre foi fácil, desmoronou com um sopro forte. Mas precisei de toda energia para desconstruir (quase) tudo. Ficou o alicerce como vaga lembrança do que ali havia. Exausta, deitei sobre que sobrou e adormeci um sono profundo.

Só despertei com um sopro de inspiração. Acordei decidida a tudo reconstruir, afinal uma base sólida tinha resistido ao plano de demolição. Mas no meu projeto não cabia mais um castelo. Desenhou-se uma casa com mais janelas do que paredes para a luz entrar com intensidade e iluminar as sombras. E uma cerca viva para dar forma à melhor definição de amor que ouvi nos últimos tempos: “Amor é cuidar da cerca.”

Uma cerca não para nos afastar, mas com a intenção de nos dizer até onde podemos ir para não invadir. Para que eu seja quem sou e o outro, o melhor que ele é, para aí sermos nós. O amor maduro não precisa de castelo, rei ou rainha. Melhor uma cerca bem cuidada por dois seres imperfeitamente humanos. Não para serem felizes para sempre, mas para serem e estarem vivos até o fim.


*@tacianacollet  é jornalista e uma das fundadoras do Vida de Adulto.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *