Se muitos não forem os meus desejos…
Se muitos não forem os meus desejos…
Para parar de me preocupar,
eu me ocupo com despreocupações.
Escolho me desocupar de futuro para me ocupar de presente.
Esvazio espaços para com o simples preencher.
Deito na grama para acompanhar a queda da folha de inverno
que não caiu no outono, só para ver onde ela vai parar.
Se o dia não é de vento, o olhar vai para o chão
e sigo formigas enfileiradas só para descobrir o paradeiro do formigueiro.
Para parar de me desesperar,
eu espero.
Nem sempre sem pressa, mas treino a espera-esperança.
Porque espera-apressada é meio-desespero.
Quando percebo a impaciência chegando,
eu calmamente me demoro nas belezas da vida.
Corro e espero o exato momento em que o sol vai entrar pela janela.
Se a hora não é mais de sol, espio o céu e conto estrelas.
Para parar de me indispor,
eu disponho o tempo contado
e as palavras que contam,
ao outro.
Só de me colocar à disposição, já começo a me sentir disposta.
Disponha! E nem precisa agradecer.
Eu quero me dispor a sair de mim mesma,
a me libertar aos poucos do egoísmo,
porque, de uma só vez, eu não consigo.
Para não só sobreviver
eu me disponho,
espero com esperança
e ocupo a vida de vida simples.
Para parar de sobreviver
eu vivo.
E, para viver, eu não preciso de muito
se muitos não forem os meus desejos.
*@tacianacollet é jornalista e uma das fundadoras do Vida de Adulto.