Amor Clandestino

Luciana Chemim escreve sobre Amor clandestino
Foto: Arquivo pessoal

*Luciana Chemim

Quando se está amando há uma necessidade quase urgente de torná-lo público, nem que seja para o grupo seleto de amigos.

O amor gosta de esparramar-se.

Pode ser por telefone ou vir escancarado nas redes sociais, com trilha sonora, letras garrafais e poesia de Drummond. A questão é que, quando o sentimento de amor nos invade, nos tornamos verdadeiros holofotes humanos.

Por mais discretos que sejamos, o corpo todo emite luz.

E, no fundo, queremos que o mundo saiba da alegria de ter ao lado alguém que faça a alma dançar.

Queremos espalhar porta-retratos pela casa, andar livremente de mãos dadas pela vida, planejar viagens românticas, dormir com os pés enroscados, tomar café juntos. Enfim, queremos estampar na face, no verbo e no gesto o quanto estamos inebriados de encantamento.

E, depois, quando o amor já não é mais novinho em folha, queremos a rotina e a segurança de saber que ali, ao alcance dos nossos abraços diários, está aquele alguém que escolhemos (ou nos escolheu) no meio da multidão, enfrentando bons e maus momentos, tornando-nos cúmplices um da história do outro.

Queremos a serenidade de nos sentirmos amados e aquela intimidade que lê o que o outro sente mesmo que ele nada nos diga. Queremos a certeza de que não seremos abandonados no meio do caminho por uma briga qualquer ou pela opinião contrária.

Queremos história.

E é por essas e tantas outras que não consigo entender como ainda exista quem consiga viver um amor clandestino, atrás da porta, às escuras. Digam o que quiserem, afinal, cada um tem a sua opinião, mas pra mim não serve.

Sou intensa demais pra viver algo pela metade, pra me contentar com migalhas, com o que sobra ou com o que faltou.

Amor tem que ser compartilhado e vivenciado todos os dias, na alegria e na tristeza, para o que der e vier. E, se não der, tem que sair com dignidade, fechar a porta ciente de que tudo foi vivido, de que cada palavra foi dita com honestidade, de que não sobrou nenhuma gota.

Já dizia Vinícius: “que seja infinito enquanto dure”, “ao seu pesar ou seu contentamento.”


*@lucianachemim é mulher. Filha. Mãe de guri. Advogada. Professora. Feminista. Apaixonada por arte e, especialmente, pela palavra escrita como fonte de reflexão e transformação. Do eu, do outro e do planeta. Alguém que busca paridade, justiça e pluralidade. Que acredita no amor e ainda tem esperança na humanidade.

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