Vida de adulto e o tempo de se escolher

Foto de Sarah Nascimento para o texto Vida de adulto e o tempo de se escolher
Foto: Arquivo pessoal

 

“Put yourself in practice”
(Steave Jobs)

*Sarah Nascimento

Pelo menos desde os 13 anos, Marina, minha irmã caçula, sonha seus 15. Se for como eu, no dia seguinte estará impaciente para alcançar os 18, quando enfim, vai se tornar adulta… Você também viveu essa pressa de crescer? Se sim, o que significa agora essa tal vida de adulto?

Na infância, quando eu me projetava para esse universo, calculava que me casaria aos 21, como minha mãe, e brincava de escolher os nomes dos filhos. Gostava de tantos que ia aumentando a conta, só para poder ter um com cada nome: Helena, Luísa, Mariana, Vinícius. Adulta, escolhi não ter nenhum.

Pré-adolescente, eu percebia a vida adulta com  um olhar ainda muito voltado para meus pais, com suas rotinas e seus círculos de amigos – um mundo de coisas reservadas para “maiores”, no estilo Sessão Coruja. A sexualidade começava a brotar e a chamar minha atenção. Eu encontrava uns livros eróticos escondidos em casa e achava o máximo!

Na adolescência, vi a vida deles de adulto como a fase da dor – do trabalho sem dinheiro, “porque o comércio não estava bom” e, especialmente, a dor da perda de conexão com quem se ama, a dor da separação. Adulta, eu também escolhi me separar.

Na juventude, eu já me achava adulta, claro! À época, a palavra tornara-se sinônimo de autonomia. Passei no vestibular, consegui meu primeiro emprego como professora de jardim de infância e comecei a namorar pra valer e, evidentemente, a transar. Como não se sentir adulta depois de viver uma relação sexual? O que era proibido me alcançava.

No entanto, meu mundo de adulta não era o mesmo do meu pai, com quem continuei morando, após se separarem; nem o da minha mãe, que mudara de Goiânia com meus outros três irmãos. Eu desfrutava de uma autonomia concedida (sair à noite, dormir na casa do namorado, viajar com as amigas), mas ainda não pagava minhas contas, apesar de comprar umas roupinhas com meu salário.

O mundo adulto que eu via era o exercício de recomeçar, de juntar os cacos, com alegria e integridade.

Adulta, essa também se tornou a minha escolha. Hoje, aos 46 anos, defino vida de adulto como a fase em que temos a chance de vivermos a partir de escolhas conscientes, a fim de sermos quem somos, não o que querem que sejamos.

Quando crianças, nossos pais é quem, de modo geral, decidem por nós. Adolescentes, escolhemos o grupo com o qual nos identificamos e o restante vem no pacote. Na juventude, o lance é experimentar, ousar,curtir e/ou atender padrões sociais de conduta, sem escolher muito. E na vida adulta, quais os parâmetros? O que você escolher!

Em um grupo de mulheres no WhatsApp, li recentemente um depoimento emocionado de uma amiga, que, ao final da história, se perguntava: “O que estamos fazendo com o nosso tempo?!”. Na frase, se substituirmos “tempo” por “vida”, o que temos?

Temos o tempo, que somos nós, marcado pela respiração. A cada ciclo de inspiração e expiração, um pouquinho dele se foi. Porém, como canta Legião, “temos todo tempo do mundo”, toda a oportunidade do mundo de, enquanto nos for permitido, ser o que viemos ser.

« Put yourself in practice! », « Pratique-se! ». Eu gosto desse conselho do Steave Jobs, fundador da empresa Apple.

Uma palavra que resume o sentido da existência. Qual o sentido da nossa vida, se não o de sermos o melhor que pudermos na arte de ser quem somos? Ninguém nasce para ser o outro.

Foi-se o tempo de agir para agradar e ser amado. É tempo de SE AMAR, de ser autêntico, custe o que custar, de dizer o que se pensa! Mas o que vão dizer? Isso também já foi! As obrigações com a sociedade foram cumpridas e não se pode agradar a todos o todo tempo.

É por não rompermos com essa preocupação que estamos cada vez mais ansiosos e deprimidos. É tempo de se conhecer, de reconhecer os sentimentos e, por meio deles, suas reais necessidades. De que precisamos neste momento? De desafio, criatividade, conexão, pausa, equilíbrio, expressão pessoal, liberdade, amor próprio, pertencimento, contribuição com o mundo, independência emocional e ou financeira?

Somos orientados a ver com os olhos, quando, desde a infância, o Pequeno Príncipe, nos advertia: “Só se vê bem com o coração…” O desafio, na vida de adulto, é resgatar esse olhar, pois a criança é o arquétipo do coração. Na ânsia de sermos logo adultos, vamos nos perdendo do que era natural em nós, de nossa espontaneidade e capacidade de nos guiarmos pelo não verbal, pelas emoções e  intuição. Perdemos o caminho de nós mesmos. Eis a grande escolha para uma vida de adulto com significado.

Estar aqui no blog Vida de Adulto com a Juliana, a Fabrícia e a Taciana é um meio de me aprofundar nessa trilha sem seguir só.  Um meio de ver o quanto consigo trazer para fora o meu “infinito particular”, para mim e para o mundo . É preciso coragem, confiança e apoio para adentrar a escuridão, ver e acolher as partes que tendemos a negar.

Por isso também estamos unidas nesse blog – para que ele se torne um ambiente de provocação, inspiração e acolhimento para você que nos honra com sua leitura e seu precioso tempo/vida.


**@sarahnascimento.evolucao é uma das fundadoras do Vida de Adulto.

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