Busco um pássaro em voo
*Alessandra Querido
“Mais vale um pássaro na mão do que dois voando”. Hoje estava refletindo sobre este provérbio. Nunca tinha pensado no aprisionamento que este ditado infere. O que significa ter um pássaro na mão? Que ele foi até você, pousou e ali ficou? Que você o capturou e o tem preso entre os seus dedos? Pássaros não foram feitos para permanecer, sua natureza é voo.
O ditado nunca me soou tão duro e conformista. “Contente-se com o que é seguro”. “Não se arrisque”. E amargue frustração? E deixe o tempo passar até achar que é tarde demais? E omita-se de tentar abrir outras portas, traçar novos caminhos? Mais vale um pássaro na mão do que a busca pelo pássaro em voo?
Qual pássaro está preso em você? É, pelo menos, o pássaro do qual você mais gosta?
Amo pássaros, de várias cores, tamanhos, modelos… No entanto, nunca quis um só para mim. Pássaro precisa de árvore, de céu, de ninho, do mundo lá fora. E mesmo o ninho, lugar de repouso, ele reconstrói sempre que necessário. Sua natureza é voo, liberdade e reconstrução.
No fundo, sempre quis pássaros sim. Mas não na minha mão, ave empalhada pela minha vontade. Também nunca gostei de gaiolas. Sempre quis pássaros. Quero: muitos! Mas os quero em revoadas. Quero aprender para onde voam, descobrir os seus trajetos, entender como cantam tão bonito.
A vida é muito curta para aprisionar (se) um pássaro e deixá-lo morrer nas minhas mãos. Tampouco quero ir embora segurando-o, feito um terço, entre os meus dedos. Quero conhecer outros cantos. Ser voo, música, espaço. Sermos livres. Eles. Eu.
*Alesssandra Querido é uma sonhadora, fã da vida e da família, escritora apaixonada, musicista de fim de semana (quando tem tempo de praticar), remadora viciada e professora universitária de literatura… Uma amante da Arte em todas as suas formas e, talvez por isso, louca para ter mais vidas e aprender sobre cada uma delas.