EDU


Foto: Pixabay

*Laura Lisboa

Edu é um cara daqueles que, como diria um amigo gay meu, é pra glorificar de pé. Lindo, gostoso, educado, lindo, cara de homem bom de cama, lindo abdômen com percentual negativo de gordura, já falei lindo? Pois então. Este é Edu.

Edu sempre sorriu na minha direção e eu, nas primeiras vezes, tive dúvidas se era pra mim mesmo. Sorria de volta, timidamente. Depois, com mais entusiasmo. Passamos a nos seguir pelas redes sociais. Descobri que Edu era pai de família. Mulher grávida, filho pequeno, enteado e tudo mais que se tem direito. Edu também descobriu algumas coisas da minha vida e resolveu investir, cautelosamente.

De vez em quando, por mensagem, puxava um papo bobo. Eu sempre respondia. E a conversa não se estendia tanto. Edu perdia várias chances de aproveitar as deixas.

Um dia, pedi a ele uma ajuda pro meu trabalho. Edu conseguiu me ajudar, mas disse que havia um preço. Eu, que encontro deixas até onde não existem, emendei: “ponha seu preço”.

Combinamos de nos encontrar. Ele precisava me passar o material. Em troca, ganharia um beijo. Achei justo, mesmo porque seria duplamente vantajoso pra mim. Material em mãos, bocas coladas, corpos suados. Repetimos esse agradecimento mais duas vezes. Espaçadas.

Hoje, depois de meses, Edi me mandou uma mensagem: “onde vc está?” Do meu quarto, inventei um lugar qualquer. Ele emendou: “que pena, ia passar aí para te ver” (te ver, leia-se transar por 20 minutos e ir embora). “Que pena! Não estou em casa.”

Pena mesmo foi eu não ter tido coragem de dizer ao Edu que eu não queria mais. Nem na minha casa, nem em lugar algum. Pena eu não ter falado que não adiantava ele ser este homem lindo e não me oferecer nada além de um sexo rápido. Pena maior foi eu ter, por três vezes, me sujeitado a esse sexo impessoal, sem o mínimo de entrega, só pra provar pra mim (e só pra mim pois nunca contei isso a ninguém) que eu era capaz de pegar aquele Deus grego humano.

Edu, preciso te falar: nunca mais estarei em casa pra você. Nada disso fez sentido pra nós dois. Desculpe ter aceitado ir pra cama com você. Foi só um ato de egocentrismo da minha parte. Desculpe, Edu. É uma pena.

*Laura Lisboa é o pseudônimo de quem só aceita escrever se estiver nos bastidores. “Em tempos de vigilância total, a maior liberdade é não ser vista.”

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