Ganhei asas, e tive que voar


Foto: Arquivo pessoal

*Mariana Londres

O amor é sempre infinito, mas há mães que te dão asas e outras que te prendem. A minha me pôs pra voar. Só que não foi fácil decolar. Eu confundia a liberdade com falta de cuidado. Me senti desprotegida e desamparada muitas vezes.

Não é comum ouvir, em um país em que filhos moram na casa dos pais muitas vezes para sempre, frases como: “a sua casa não é mais aqui, venha buscar as suas coisas”. Ou: “você pode ficar na minha casa, mas só por um mês”. (E, vamos contextualizar, nessa última eu estava mudando de cidade, sem casa portanto, e com um filho de 3 anos).
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Mas foi essa mesma mãe que me deixou morar na Escandinávia por um ano quando eu tinha 15 anos. E sair de casa para a maior cidade da América Latina aos 23. Dois momentos cruciais.

Dizem que só entendemos os nossos pais quando nos tornarmos pais.

Comigo foi assim. Precisei ainda de outro ingrediente. Foi só quando me dei conta de que eu era bem sucedida, no trabalho, no amor, na família que tinha formado, que entendi a força e a dimensão da minha mãe. E, hoje, sei que ela tinha toda a razão. Mãe de adolescente, tento ser como ela.

É muito mais difícil soltar o filho no mundo do que mantê-lo sob as asas. É mais doloroso para ambos. Requer coragem e desprendimento da mãe. Mas é o melhor caminho.

Sei exatamente de onde tirei a força que tenho hoje. Do momento em que vi o portão de embarque fechando nas minhas costas e me dizendo: “a partir de agora, será só você”. Ou quando entrei no ônibus Curitiba-SP e chorei por 400 km sabendo que minha vida no aconchego da casa da minha mãe tinha ficado pra trás. Mas essas experiências só foram possíveis porque ela permitiu. Abriu a gaiola e disse: “voa, minha filha, porque você está pronta”.

*Mariana Londres Pinha escreve desde criança como terapia. Nunca pensou em publicar nada pessoal, até encontrar uma editora insistente e apaixonada. Além de textos, produz relações de longo prazo e é especialista em administrar distâncias e saudades.

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