Bendita Geni
*Renata Varandas
Esses dias fui almoçar sozinha. Dei a sorte (ou azar) de sentar em uma mesa ao lado do dois homens que conversavam efusivamente sobre o caso Neymar. Mal dei a primeira garfada e a frase que ouvi foi: “Mas também, o que você espera de uma mulher que foi pra Paris, com o cara pagando a passagem dela e a hospedagem?” O outro acrescentou: “Ela mesmo, em entrevista, confessou que foi lá pra transar com ele”. Elaboraram teorias de botequim e depois concluíram: “As mulheres hoje em dia estão muito liberais. Mulher tem que entender que precisa se preservar”.
Terminaram essa pauta e iniciaram outra, nos mesmos moldes: um contava para o outro que estava “pegando” uma mulher conhecida de ambos. Ele mostrava fotos dela pro amigo e as conversas entre o casal pelas redes sociais. Eles riam e faziam comentários antagônicos na mesma frase: “Ela é uma mulher incrível, mas é uma vagabunda”. “Ela é sonho de consumo de muitos caras, mas não serve pra namorar”.
Olhei os dedos anelares de ambos. O rapaz que “pegava” a moça que estava em pauta tinha uma aliança na mão de casado, o amigo não. E os dois passaram a rifar aquela moça enquanto eu terminava de almoçar com o meu estômago se revirando.
O casado, não só dava permissão ao amigo, como o incentivava: “Vai lá, pegue ela também”. E continuaram a se referir a mulher com admiração e desprezo. Depois de muito a rotularem, concluíram o fundamento epistemológico deles: “Tá vendo? Mulher tem que se preservar”.
Em meio a um festival de frases completamente ausentes de autocritica, fiquei eu pensando enquanto aguardava a minha conta: quem é que tem que se preservar? Concordo com vocês, rapazes ilibados, nós, mulheres, temos que nos preservar sim: de homens como vocês dois. Lembrei da Geni e o Zepelim. Maldita Geni que dá pra qualquer um. Bendita Geni, que pode nos salvar.
*Renata Varandas é jornalista de profissão e escritora por paixão. Aquariana típica, é uma eterna inconformada. Ama questionar, conversar, trocar. E também cachorro, chocolate, vinho e amar.