Asas, quero voltar a voar
*Carmem de Lavor
Recentemente comecei a me fazer uma pergunta: “Em que momento da vida combinei com o universo que para ser independente, exercer a profissão que escolhi e ser mãe solteira, teria que abrir mão da minha essência?” Tenho certeza de que não combinei isso, será que seria tão doida assim?
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Ainda estou em busca da resposta. Mas uma coisa é certa: não sou a mulher que desejei ser quando comecei, aos quinze anos, a caminhada em busca dos meus sonhos. Sim, porque nesta idade eu já tinha certeza do que me reservava o futuro: uma vida livre, sem amarras. Como boa sagitariana que sou, tinha certeza de que se não fosse assim não sobreviveria.
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Então como cheguei a este ponto? A esta sensação de estar numa bolha, sendo empurrada para lá e para cá, num vai e vem sem fim de correria e compromissos.
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Onde foram parar minha leveza, o prazer pela dança, pela música , o sorriso fácil e principalmente onde foram parar as minhas asas?!
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Acho que só mesmo a personagem Malévola para entender como me sinto. Assim como eu, ela tinha seu pequeno reino e vivia feliz nele, até que um dia roubaram suas asas e tudo perdeu o encanto.
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Sou grata a Deus todos os dias pelo meu trabalho, minha casa, minha filha, família e amigos. Mas me incomoda olhar em volta e ver tanta gente sem asas, como se isso fosse a coisa mais normal do mundo. Não é!
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Somos seres livres. Mas construímos tantas amarras ao longo da vida que nem percebemos. Para que ter se não podemos ser? Quer saber? Começo a achar que o universo não tem nada com isso. É melhor eu tratar de descobrir um jeito de furar esta bolha rápido, antes que eu desaprenda de vez a voar.
*Carmem de Lavor é uma jornalista nascida no Rio, mas apaixonada por Brasília. Sagitariana, está sempre mirando o horizonte. Não resiste ao sorriso de um bebê e ao latido de um cãozinho. Detesta injustiças.