Se precisar, conte comigo
Quantas vezes eu escrevi ou disse essa frase “Se precisar, conte comigo”? Uma infinidade. E por quê? Porque me acho capaz de ajudar todos, de salvar o mundo? Tentar tornar o sofrimento do outro mais ameno faz com que as pessoas mais próximas a mim me procurem com frequência. Dividimos histórias, decepções e lágrimas e somamos experiências, aprendizados e laços cada vez mais apertados.
Obviamente, eu não soluciono a vida de quem me procura, mas acho que acalmo um pouco o coração. Esses dias, andei pensando: “Mas e eu?” Quantas vezes escuto do outro: “Se precisar, conte comigo”? Há umas semanas, bati o carro pela primeira vez.
Dias depois, perdi um amigo aos 38 anos de idade. Esta semana, tive uma crise forte de faringite que me tirou a voz e me trouxe uma ansiedade enorme (já que é um dos meus instrumentos de trabalho). Enfim, situações que acontecem com todos nós, mas que dão, além da sensação de impotência, a de desamparo.
É obvio que tenho várias pessoas que poderiam me ajudar (e que por sinal, devem estar ofendidas lendo isso aqui), mas não me refiro a rede de proteção que você já formou aos cinco anos de idade composta por pai, mãe, avó, irmãos e tudo mais, nem aos amigos, que estão por perto, mas que tem suas próprias vidas.
É o “contar” que você nem pensa “pra quem eu vou ligar?” Apenas pega o telefone e liga automaticamente porque aquela pessoa vai sair de onde estiver para te socorrer, abraçar, consolar. É o suporte garantido, aquele que faz você se sentir mais seguro, mesmo sabendo que o outro não é super-herói. É não ter que pedir “não solta a minha mão” porque essa possibilidade jamais existiria.
“Com quem eu posso contar?” Pra mim, esse questionamento só vem depois que você pede ajuda e se dá conta de que ela não vem. É quando você enxerga que, na verdade, autossuficiência não rima com independência, mas sim com sobrevivência. É quando você aprende que solidão é realidade e que estamos todos sós. E você, se precisar, com quem você pode contar?