Solteiro sem convicção

*Arthur Scotti

Alguns dias atrás, enquanto um amigo esperava sua amada noiva no altar, eu cheguei à conclusão de que sou o único da turma que não é casado. Nada preocupante, até porque eu tenho lidado bem com a vida de solteiro, embora solitária em muitos momentos, confesso. No entanto, essa situação preocupa demasiadamente três mulheres em especial: minha mãe, minha avó e minha bisavó.

Veja só! Outro dia, cheguei a pensar em arranjar um relacionamento fake, apenas para tranquilizá-las. Minha avó, sempre com seu carinho e delicadeza, faz questão de me lembrar do “príncipe que sou”, ao dizer que preciso encontrar “minha princesa”.

Realmente, as mulheres não estão sozinhas nessa pressão imposta pela sociedade para colocar uma aliança na mão esquerda. Na última vez em que visitei minha bisavó, deitei na cama junto com ela e conversamos por alguns minutos. Ela estava um pouco doente. Mesmo com uma dezena de bisnetos, dona Geralda conhece muito bem esse aqui: “Meu nego, por que você não casou ainda?”.

Eu não soube responder. Fiquei calado. Percebendo meu constrangimento, ela disse: “Não tenha pressa, tá vendo fulano, já separou três vezes”. “Case quando tiver certeza”, foi o conselho carinhosamente dado.

Embora vivamos em uma época em que a monogamia não é necessariamente a regra generalizada, eu acredito em um grande amor, daqueles que consomem tudo. Queimam como o fogo incontrolável e continuam a arder como brasas por muitos anos, como é o caso dos meus avós, que vivem juntos há cinco décadas.

De vez em quando, me pego buscando uma resposta para a pergunta de minha bisavó. Mas, até hoje, não encontrei uma explicação. E essa questão não chega a ser um problema para mim. Enquanto isso, continuo a frequentar casamentos por aí, de amigos ou da família. Como espectador.

*Arthur é jornalista, entusiasta da produção rural orgânica e apaixonado por cavalos. Em seu tempo livre, gosta de ler histórias, ver filmes repetidos e cozinhar para lembrar de casa.