Muito mais que um corpinho

Foto: Arquivo pessoal

*Juliana Melo

Voltei a malhar mês passado. Adoro musculação! E achei curioso o atendimento que recebi de um professor da academia. Talvez, pra me vender o seu trabalho como personal trainer, tem sido extremamente atencioso comigo. Todo dia ele diz que é muito importante trabalhar a autoestima. Achei engraçado nas primeiras vezes, mas como ele insistiu, tive certeza de que, pra ele, minha autoestima está lá no pé, por eu estar “acima do peso”.

Refletindo sobre essa situação, me lembrei de dois momentos meus registrados em fotos. Na primeira, eu e minha filha cinco anos atrás. Estava numa das melhores formas físicas da minha vida; o corpo magro e razoavelmente definido não denunciava a minha bagunça mental.

Logo depois, crises seguidas de dores no quadril me fizeram abandonar os exercícios, e entrar numa profunda aventura em busca de mim. A situação me dava a pista de que estar dentro de um padrão não era garantia de estar em paz, muito menos feliz.

Quase vinte quilos mais tarde, na segunda foto, depois de um longo caminho de autoconhecimento, passei a ter uma outra percepção do significado da palavra autoestima. Percebi que vai muito além de eu gostar da imagem refletida no espelho.

O amor próprio passa pela minha relação com o meu mundo interno, com minhas emoções, com a consciência das minhas qualidades, das minhas habilidades, conquistas, assim como daquilo que compõe a minha sombra, minhas deficiências e dificuldades.

A consciência de quem eu sou de fato – um ser complexo, cheio de dores e delícias – me fez entender que o meu corpo físico é só mais uma parte de mim, que eu preciso cuidar dele tanto quanto preciso cuidar do meu corpo emocional e do corpo espiritual. E só me entendendo em toda essa completude que eu pude, de fato, me amar.

Quando olhamos toda a beleza estampada em uma capa de revista não somos capazes de saber o quanto aquela pessoa, modelo de perfeição, está de fato em paz com quem é. Muitas vezes aquele corpo é só o abrigo para uma alma em pedaços.

*Juliana Melo é servidora pública, mãe, esposa, filha, mas entende que, à parte de todas essas identidades, é apenas um ser em busca de sentido.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *