Não fui criada para sentir saudade

Foto: Arquivo pessoal

*Kelly Almeida

Vai ter textão porque eu vou falar de amor. Amor em tempos de intolerância. Amor em tempos de ódio. Amor essencial para cada um de nós. Amor que aprendi a sentir bem cedo. Ele chegava com a casa cheia, com o cheiro do almoço no fim de semana, com os natais de ceia coletiva, com os passeios de ônibus para o shopping, com as viagens de carro. Ele chegava quando só tinha sentido se eu e meus primos tivéssemos o mesmo ovo de páscoa, mesmo se fosse o menor e mais simples.

Ele vinha arrebatador com o abraço apertado, com os apelidos carinhosos, com as piadas sem graça, com as conversas no sofá em que cada um falava mais alto que o outro e, mesmo assim, todos se entendiam. Esse mesmo amor se mostrava puro e verdadeiro quando o bolso estava vazio, mas o coração permanecia pronto para doar ou dividir.

Eu não fui criada para sentir saudade. Eu fui criada para amar. E foi exatamente por ter aprendido e seguido isso com tanto rigor, que aprendi a conviver com a saudade. Mais do que isso. Aprendi que a saudade é o acúmulo de todo amor compartilhado – e, mais importante, demonstrado – ao longo da vida.

Nos últimos oito anos, a certeza do amor sentido, vivido e falado faz a saudade ter cheiro de boas lembranças.

Posso não ter sido criada para lidar com o sofrimento e com a saudade, mas é que eu estava muito ocupada aprendendo a amar. E eu desejo muito que possamos amar todo dia e a cada dia. Esse sentimento é libertador. Ele cura e conforta. Conforta todas as dores, juro. Até as mais fortes que você vai sentir na vida.

Ao meu pai, dono da minha maior saudade, o meu mais sincero e eterno amor!

*Kelly Almeida é brasiliense, com raízes nordestinas e adora levar o coração para passear no mundo. É jornalista, fala sem parar, não abre mão de um chocolate, agradece todos os dias pela família e pelos amigos, tem uma fé inabalável e escreve por amor.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *