Um caminhão passou por mim

Foto: Arquivo pessoal

*Lívia Braz

Pense na seguinte cena: um caminhão bem pesado passando rápido por uma estrada de terra. Imaginou o estrago? E a sensação de que aquela poeira toda nunca vai abaixar? Certeza de que passou pela sua cabeça, certo? Porque pela minha passou, e assim ficou por uns meses.

Sempre fui uma pessoa bem resolvida e otimista. Nos nove meses que carreguei meu bebê na barriga segui assim: com a certeza de que tiraria de letra. Parto normal, amamentação no peito. Seguiria dando conta da casa, marido, recebendo visitas com bolos saindo do forno, feitos por mim, óbvio. Ia ser moleza conseguir passear de manhã, seguir a rotina de ginástica, sono e idas ao salão. Claro que pouca coisa mudaria.

E foi aí que o caminhão passou.

E junto com aquela poeira toda, levou o sonho de tudo isso que a maternidade seria pra mim. Uma poeira que insistia em não querer baixar. A cada banho não tomado, cada almoço não comido, cada noite não dormida, a poeira insistia em se manter levitando.

Mas os dias passaram, aquela nuvem pesada de pó começou a dissipar, baixar. Os risinhos de canto de boca, mexidas agitadas no banho e o cheirinho, ahh o cheirinho do cangote, iam fazendo o caminhão ficar cada vez mais distante.

Obrigada caminhão, por me fazer enxergar que tudo dali pra frente ficou mais claro, mais simples e mais leve. E por me fazer ter ainda mais certeza, de que o tempo é capaz de apagar até mesmo as memórias da mais empoeirada das estradas.

*Lívia Braz é jornalista, apaixonada por viver, amar e ser feliz!

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