Eu não sei ser sexy

Foto: Arquivo pessoal

*Maria Julia Prado

Na verdade, a lista de coisas que eu não sei ser é quase interminável. Eu não sei ser menina, sei menos ainda ser menino, definitivamente não sei ser hétero (a essa altura da existência humana, todo mundo já deveria saber que sexualidade é fluida).

Vivi a maior parte tempo achando que era algum tipo de alienígena fazendo reconhecimento do terreno, sem nunca me sentir parte dele, absorvi a cultura dos vários lugares em que cresci como mero observador, buscando sempre alguém igual a mim.

Veja bem, meus pais são completamente diferentes um do outro. Meu pai foi criado pelo mundo e minha mãe numa tradicional família brasileira. Meu pai era evangélico e minha mãe católica. Meu pai fala demais e minha mãe sente demais e, num súbito encontro do destino, ficaram juntos e eu passei a existir. Desde então, eles sempre cantam “Exagerado” do Cazuza pra mim, eu acho que sempre souberam que eu seria diferente.

No auge dos meus 13 anos, achei que minha sexualidade seria a coisa que me libertaria de me sentir diferente. Graças à santa internet, eu sabia que tinham milhões de pessoas iguais a mim, (in)felizmente as novidades não pararam de vir. De repente, eu não era uma pessoa monogâmica com tendências sadomasoquistas aos 18; aos 19 já tinha uma ideia que não era bem menina e tinha dias que a disforia batia com vontade.

Não me leve a mal, eu sempre aceitei com bom humor todas essas coisas que eu imagino que outras pessoas surtariam. Eu acho a ironia da existência humana uma coisa quase divina, mas ainda me sinto sozinhx, ainda me sinto invisível, ainda não sei bem como existo.

Mesmo não sabendo um monte de coisas, eu não desejo ser nada diferente de quem sou. Pra mim, a melhor coisa do mundo é a diversidade, porque ela permite que, mesmo que eu sinta que ninguém existe como eu existo, eu nunca me sentiria sozinhx.

*Maria Julia Prado, 20 anos, estudante de jornalismo, lésbica feminista, aprendendo a ser gente.

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