Vida de adulto

Foto: Arquivo pessoal

*Jairo Lopes

Quando pequeno, às vezes me pegava com o olhar distante, imaginando que, quando crescesse, teria “superpoderes” de compreender a vida, de realizar todos os planos e, no fim das contas, de gritar bem alto que eu era feliz.

Eu seria piloto de caça, ganharia muito dinheiro, casaria com a garota dos olhos mais lindos, teria uma casa com a cozinha toda branca, seria o pai da Maria e, o mais importante: seria o senhor da própria vida.

E eis que a mão do tempo veio implacável e, já gente grande, entendi quando Lennon disse que “a vida é o que acontece com a gente enquanto estamos fazendo outros planos. ”

Não virei piloto, não ganhei dinheiro, a cozinha branca é só um projeto na gaveta e a Maria ainda não veio. Mas a garota dos olhos lindos se tornou a minha mulher. Isso já deixou o saldo positivo. Contudo, faltou-me a compreensão da vida e sobrou o vexame de achar que seria eu o seu senhor e não o contrário.

Desisti de compreender e fiz outro plano, para que a Maria se orgulhe do papai dela um dia ou para que, nos instantes em que ainda nos fazemos presentes em pensamentos depois que partimos, ser a lembrança de quem só quis ser um sujeito decente: que não se recusa a dar um abraço, que não se permite ser um cão raivoso que avança sobre os que pensam diferente, que votam diferente ou que “amam” diferente e que, por fim, nunca quis ignorar a existência de quem tem fome bem ao seu lado, de pão ou só de acolhimento.

No fim das contas acho que a verdadeira vida de adulto é exatamente isso: apesar da própria insignificância, esforçar-se para deixar algum bom significado para o mundo.

*Jairo Lopes é um cara que adora histórias de amor e torce por finais felizes. Ama fotografia, cachorros, todos os cachorros, pôr do sol, música, doce de padaria, estrada, cozinha e, no restante do tempo, trabalha e vive as alegrias e dilemas da vida real.

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