Timidez

Foto: Arquivo pessoal

*Claudia Brasil

Timidez é um inferno para quem vive. Ter “vergonha” de quase tudo e todos é um horror. Vergonha de dizer “bom dia”. E te tacham de mal-educada e antipática. Vergonha de entrar na loja e perguntar o preço de uma roupa (obrigada, Código de Defesa do Consumidor por obrigar os estabelecimentos a deixar o preço visível em tudo). Vergonha de quase tudo.

Sou uma pessoa tímida. Quem me conhece vai ler isso e pensar que pirei, que estou com problemas de autoimagem. Não. Sou tímida, sempre fui. E a escolha da minha profissão foi determinante para me ensinar a lidar com a timidez.

Comecei na carreira de jornalista como apresentadora de telejornal. Pois é, vai entender… depois, como apresentadora e repórter, bom, ou aprendia ou mudava de profissão. Como é que se entrevista um presidente da República sendo tímida? Ministros? Deputados?

Mas a questão não é o poder. É abordar gente. Como é que alguém que tem vergonha de dar bom dia ao porteiro aborda uma vítima de estupro e pergunta sobre o tema? Como é que faz entrevista sendo tímida? Aprendi. Me reorganizei.

Entendi que, para exercer com competência minha profissão, não precisava deixar de ser tímida. Nem sei se isso é possível. Mas precisaria lidar com isso. Não poderia deixar que a timidez me bloqueasse.

Foram anos de aprendizado e a vontade de desaparecer ainda me sobrevoa como um drone quando o desafio aparece. Mas enfrento. Todo dia. Quando vi no meu filho mais velho os traços quase limitantes da timidez, prometi a mim mesma que ele não sofreria na escola o que sofri.

Ter vergonha de perguntar ao professor, de tirar dúvidas e até de ser elogiada publicamente. Tudo era um tormento. Diariamente, fortaleci a autoconfiança dele. Disse a ele, desde pequeno, o quanto ele era bom no que fazia, que ele era capaz de apresentar bem o trabalho na frente dos colegas, de encenar uma peça, de mudar de escola.

Acho que nunca nem pronunciei a palavra “timidez” pra ele. Virou um adolescente sem esse tipo de limitação. Se tem um trabalho do qual me orgulho de ter feito foi esse com ele. A timidez ainda me ronda. Mas não me limita mais. Continuo tímida. Mas, por mais paradoxal que pareça, hoje estou livre. Quem está no comando sou eu, não ela.

*Claudia Brasil é jornalista, mãe de dois adolescentes, corredora amadora, amante de fotografia, chás, vinhos, gatos e aromaterapia. Ah, de trilhas também!

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