O vírus que nos afasta
*Mariana Londres
Despedida sem beijo. Choro sem poder levar as mãos ao rosto. Reencontro sem abraço. Colo de mãe por videoconferência. Apoio sem uma mão pra segurar.
O vírus atinge em cheio os brasileiros porque somos, sim, muitas vezes, só coração. Em meio ao caos, o meu começou antes do coronavírus, me vejo pela primeira vez em vinte anos sozinha em casa. Sozinha não. Com as maravilhosas companhias do meu cachorro idoso, dos meus pensamentos e da fé. Das palavras.
No meu desumano confinamento, com a graça de Deus fazendo home office, reúno forças pra acreditar que os abraços apertados estão, apenas, suspensos. Tento não enlouquecer pra não derrubar a minha própria imunidade, o que seria um tiro no pé.
O fechamento de fronteiras e divisas me deixa numa situação difícil porque, nesse exato momento, eu não posso estar junto do meu pai e madrasta, confinados no apartamento de Barcelona e nem do meu filho adolescente, que aguarda um voo na fazenda onde mora na Carolina do Sul.
Minha mãe está isolada com o meu padrasto no apartamento em Curitiba, meu irmão, minha avó, minha madrinha e tios no Rio, cada um no seu endereço.
Na situação de guerra, a primeira da nossa geração, me despeço do meu marido, que como um soldado foi requisitado para o front em São Paulo, no epicentro da epidemia no Brasil. E a minha missão é clara: administrar os problemas reais e esperar os abraços no fim disso tudo.