A caixa

Luciana Galdino no Vida de Adulto
Foto: Pexels

*Luciana Galdino

Em uma rua estreita em Salvador, lembro da minha infância e das brincadeiras no final da tarde. Baleado, elástico, cinco pedras. Não tive bicicleta, mas tive um patins rosa.

Lembro que a minha maior felicidade foi quando depois de anos, meus pais conseguiram fazer o meu quarto separado dos meus irmãos.

Um quarto só meu e com uma penteadeira. Uau. Mas ela era rosa. E esta cor já não me agradava. Vi o descontentamento no olhar da minha mãe.

Ela, muito autoritária e eu, a filha insubmissa, rebelde.

Pedi para pintar de cinza (uma cor que hoje não seria minha escolha). Eu insisti e ela cedeu.

Estava na adolescência, me “adultecendo”. Sempre fui desapegada. Pedi para que ela doasse meus brinquedos, minhas roupas. Posso recordar das lágrimas em seus olhos.

Anos depois. Chegou o dia do meu casamento. Eu agraciada por Deus com uma família enorme e amorosa. Vinte e três tios. Primos e amigos não posso contabilizar. Muitos presentes. Fui abrindo aos poucos. E uma caixinha parda deixei para o final.

Abri. Chorei. Mas chorei igual um bebê com cólicas. Eram os meus brinquedos. Mais que isso, eram os meus prediletos. A minha gatinha de pelúcia, meu coelhinho da páscoa, meus pôneis. O meu melhor presente de casamento: o amor da minha mãe.

Hoje mãe, vejo minha filha brincando com os meus brinquedos toda orgulhosa.

Não resisto, brinco também. Mas preciso te contar. Tenho dificuldade de doar a saída de maternidade dela. Foi a Senhora que presenteou. Ah, e a cor preferida dela já foi vermelha, mas agora é rosa.

Quero te contar também que é dolorido cada fase que deixo ir. A fase da amamentação, das primeiras palavras e tantas outras que se eu fosse a Elsa (ela ama), eu congelaria.

Mãe, que bom que você insistiu na minha criança. Que bom que entendi que não precisa me dizer eu te amo, sei o tamanho do seu amor…

É mãe, agora entendo… Desapegar não é tão fácil assim…


*Meu nome é @luoliveiraenfa, criei o  do @esposadotrecho no Instagram com a intenção de fazer conexões através da escrita sensível e abraçar todas as pessoas, que assim como eu, vivem longe das suas raízes. Saí da Bahia há 9 anos e vivemos mudando de acordo com as transferências da empresa.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *