No tempo em que tudo era mato

Marcela Pardo no blog Vida de Adulto
Foto: Arquivo pessoal

*Marcela Pardo

Tive um reencontro com uma pessoa que nunca vi pessoalmente, mas tive a sensação de que já a conhecia há anos. Fiz uma viagem no tempo ao passar por lugares, bairros, curvas e ruas que me conectaram a momentos diferentes da minha vida.

Passou um filme, um longa-metragem.

Embarco nesta viagem sem um convite formal em papel timbrado ou até mesmo um simples template de whatsapp. E, assim, de repente… me vejo conectada a mim mesma. Automaticamente.

Chego a um tempo onde me conectava com a natureza através do banco de trás de um carro, com outras pessoas dirigindo. Quando criança, a literalidade dessa frase faz muito sentido, mas em algum momento ela precisa deixar de fazer, certo?

Quando foi que isso aconteceu com você? Comigo faz pouco tempo.

O mais estranho é que, olhando pelo retrovisor, percebo que fiquei um tempão no banco de trás, com alguém dirigindo o MEU próprio carro.

Desculpa o grito, mas quero conseguir traduzir melhor o sentimento. Percebi que, em algum momento, eu faltei à aula de conexão, de transição, do passar o bastão.

E aí paro e reflito: “Por que eu nunca falei sobre isso com as minhas amigas? Por que eu nunca ouvi isso delas?” Acho que realmente não houve essa aula ou foi entregue como matéria dada. Acho que essa conversa não aconteceu ou todo mundo fingiu que entendeu.

Pois é, mas quando eu virei mãe não tive a possibilidade de entrar na aula de recuperação ou de reforço e o motorista sumiu com o carro em movimento e em alta velocidade.

Logo eu que me achava tão conectada, tão dona de mim, tão certa das minhas escolhas… me vi sozinha com um ser que não me deixava sozinha um minuto sequer. Logo eu que sempre amei ficar sozinha. Logo eu que queria tanto uma filha, um parto, tudo pronto e preparado.

Leva tempo para assumir o volante do seu próprio carro, exige dedicação e, acima de tudo, reconhecimento. Para aprender a se reconhecer todos os dias.


*Acordo para ajudar uma pessoa por dia. Acredito que todo mundo deve lembrar que, às vezes, quem precisa ser ajudado somos nós mesmos. Através da escrita e das conexões, vivo intensamente meus dias de forma leve e conectada. Busco ser a melhor versão de mim mesma para poder estar ao lado dos meus filhos e poder guiá-los na jornada de intensa aventura que chamo de VIDA. No meio de tudo isso vou me reconhecendo, me conectando e principalmente me curando das feridas que sofri e muitas vezes nem sequer senti. @marcelavlr, do @janelacolmeia.

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