De carne e osso

Elisa Amate no Blog Vida de Adulto
Foto: Arquivo pessoal

*Elisa Maria Amate

Acompanhada de uma xícara de chá numa tarde nublada de segunda, iniciei “A coragem de ser imperfeito”, de Brené Brown. Ao folhear as páginas do livro, fui degustando cada linha com um gole de verdade. Ali florescia mais um oráculo que me fazia rememorar vários momentos da minha vida.

A última declaração que ouvi de alguém foi: “Sou fechado mesmo! Nasci assim sozinho e vou morrer sozinho!” E, ali, naquelas entrelinhas, havia um tom de “olha e cuida de mim” ou “tenho medo de sofrer” ou simplesmente “aceita e me ama como eu sou”. Por não entender aquilo, me dei o benefício da dúvida porque não houve diálogo. Falo do outro. E quanto a mim?

O perigo dessas entrelinhas está na margem que elas dão para a interpretação alheia, com chances altíssimas de gerar uma comunicação enviesada. Podemos inferir aqui que há o medo da vulnerabilidade e o medo da rejeição como pano de fundo.

Na minha humilde opinião, o pior é eu e você não estarmos vivendo a completude dos Seres imperfeitinhos! E a imperfeição não está apenas “em não fazer”, mas também no “não poder ser” motivado pelo medo. Medo de errar. Medo de tentar. Medo!

Diante da autoterapia, me perguntei também: “Quantas vezes me fechei numa concha por acreditar que expressar o que sentia verdadeiramente era algo que me tornava vulnerável?”

Quanto tempo esperei o dia ideal para começar um projeto? A casa perfeita? O carro dos sonhos? E o medo de sofrer rejeição? A necessidade de controle fica maior porque o medo é o principal combustível! E a vida vai passando e as insatisfações, aumentando…

A cada dia, venho descobrindo que existe beleza na imperfeição e muita coragem em ser vulnerável: ser diferente quando todos estão iguais, louca e varrida quando tudo é normal. Triste e alegre. Doce e sal. E acolher esse comportamento tem me feito super bem, respeitando o meu processo e experimentando laços afetivos mais profundos. Comigo e com os outros.

Termino esse desabafo cantando as estrofes de Zélia Duncan:
“Perfeição demais me agita os instintos
Quem se diz muito perfeito
Na certa encontrou um jeito insosso
Pra não ser de carne e osso.”


*@isa.amate, 33. Criatura errante(rs) e terapeuta Integrativa em construção.

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