Sou
Sou do tipo que mergulha intensamente naquilo que meu coração chama. Gosto do que é invisível para os outros, mas valioso para mim. Por vezes, me pego tentando convencer os outros de que o que eu julgo importante tem que ser, também, para eles. Deve ser coisa de advogado.
Eu não sou tudo o que suponho ser e, com certeza, sou bem mais do que suponho. Apenas “sou”!
E não “sou” quando falo ou escrevo. “Sou” quando me calo, quando choro em silêncio, quando sou introspectiva no que sinto.
“Sou” quando gargalho sem explicar o porquê. “Sou” quando sinto e busco explicar o inexplicável. Mas letras e palavras são deveras insuficientes para mim.
Às vezes sinto que nosso rebuscado dicionário não passa de uma “novilíngua” (vide “1984” de George Orwel) feita para limitar a expressão do que pensamos, haja vista a capacidade infinitamente maior do “sentir” em relação ao “expressar”.
Sigo nessa tentativa de me expressar, de me fazer compreendida. Quero me comunicar, ainda que, ao racionalizar, perceba que nada do que eu diga ou escreva será suficiente.
E assim, ponho-me a escrever em uma busca infinita de transmitir o que sinto, de mostrar o meu retrato nessas linhas, mesmo que em partes. Para que cada um monte um quebra-cabeças cubista a la Picasso. Para que enxerguem em mim exatamente o que querem enxergar.
E, no fim, eu que tento mostrar aquela que “sou” por mim mesma, acabo me tornando muitas. Uma para cada um.
Alguns enxergam doçura; outros, amargura. Alguns me acham exótica. Tem quem enxergue traços de beleza ou de feiura, como em toda arte.
Acho que cada um é uma “arte” a ser observada em suas peculiaridades: às vezes apreciada, às vezes odiada e, muitas vezes, ignorada.
Mas, ainda assim, carregamos o dom e a responsabilidade de “ser” arte, por nós mesmos, por nossa natureza.
O que somos independe de qualquer opinião ou julgamento e está muito além do que podemos expressar. Afinal de contas, o que importa mesmo é, simplesmente, ser!
*Sou a @anoma.lilian, ou apenas Lilian. Natural de Brasília, mãe, esposa, advogada, concursada e metida a escritora desde novinha. Criei o @amagoreflexivo em novembro de 2020 para voltar a escrever como fazia em um blog. É quando escrevo que me encontro! E morro de felicidade quando consigo fazer com que outras pessoas se encontrem também.
Que texto belíssimo e sensível. Todos nós somos esse quebra cabeça cubista com cada um nos enxerga de forma distinta. Porém o mais importante é não nos prendermos no olhar do outro, tendo uma percepção assertivas sobre quem somos(escrevo isso, para tentar deixar claro para mim mesma). Parabéns por ser está linda construção repleta de quinas, arestas e volume. Muito feliz de te-conhecido!