Despedidas

Renata Veneziani escreve sobre Despedidas
Foto: Arquivo pessoal

*Renata Veneziani

A cada abraço não dado é saudade de um tempo levado por uma enxurrada. Despedida dolorosa do jeito de caminhar. Encontrar pessoas sem tocar é um desaprender diário. Necessário. Volto protegida e desprovida.

Despeço-me da melancolia. Sonho com o adeus de uma viagem. Levar na bagagem minhas histórias e de quem vive em mim. Não importa se vou de carro, ônibus, avião ou trem. Quero ir. Voltar. Colecionar memórias. Compartilhar descobertas. O encantamento dos detalhes.

A busca pelas sutilezas precisa começar. Sem um roteiro turístico disponível, vou ao encontro da mudança. Daquela que não pedi. Nem planejei. Recebi junto com o mundo inteiro. Sem uma planilha com fórmulas prontas para preencher. Deitar no chão e espernear não é uma escolha. Tem a vida me mostrando – a adulta da casa sou eu.

Meus planos sumiram como papéis nas sarjetas.

Nem deviam ser descartados lá, muito menos voar por aí entupindo os bueiros. Joguei meus projetos pela janela sem pensar o mal que poderiam causar. Um ano depois dessa tempestade prometo juntar tudo em um quebra-cabeça. Ver as pecinhas unidas é enxergar que me quebrei para esse resgate. Ruptura necessária.

Revivendo a chegada de meus filhos, encontro pistas de como fazer essa transformação indesejada. Mergulhei em minhas dores. Lembrei da intensidade da UTI Neonatal. 41 dias tocando a campainha que não queria. Andava incompleta. Deixava a Sofia em casa para olhar José e João. Pegá-los não podia. Carregava comigo a esperança. O amor sustentou meus passos.

O medo me rondava. Confiei na vida. No toque. No sonho de aninhar os três comigo. Presenciei uma pausa respiratória do João. Saí de lá sem ar. Aprendi a viver um dia por vez. Não levamos nada daqui apenas nossas histórias.

A fé que me habita não deixa o medo fazer morada. Os abraços foram suspensos. Escolho o olhar. Enxergar a alma sem toque. Desaprendi o que sabia para (me) encontrar de novo nesse mundo de despedidas.


*@renataveneziani_escritora é mãe da Sofia e dos gêmeos José e João, apaixonada pelo marido, escritora, leitora, jornalista, autora do livro Quando acordei mãe, otimista, sonhadora e que agora vive um dia por vez

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