Agora eu quero ir…

Elisa Amate escreve o texto "Agora eu quero ir...", de uma música de Anavitória
Foto: Arquivo pessoal

*Elisa Maria Amate

‘”Agora eu quero ir/Pra me reconhecer de volta/Pra me reaprender e me apreender de novo/Quero não desmanchar com teu sorriso bobo/Quero me refazer longe de você.”
Anavitória

Todas as vezes que ouço esta música lembro da desilusão amorosa com o último parceiro. Desde aquele término, em pleno dia de um mês primaveril, precisei partir com a bagagem pesada de uma relação extremamente tóxica – precisava me ‘’reconhecer de volta’’.

É duro abrir mão de alguém que te faz bem e um mal tão grande. E a vida é feita de escolhas…

Passei anos relembrando os momentos bons e os gatilhos que desencadeavam meu choro. Ora, não quero ter que ir e me reaprender mais uma vez. Não por aqueles motivos.

Fiquei um bom tempo me apreendendo de novo. Curando. Algumas vezes feri e não foi maldade. Outras, recuei. Medo. Quando entendi quem eu era e o que precisava para minha vida – não a anima e animus baseados nos contos de fada – e sim de uma pessoa real cuja conexão perpasse pelo diálogo, confiança e generosidade.

Fui acusada inúmeras vezes que era “exigente” demais.

Que nunca iria encontrar uma pessoa para “atender” as minhas expectativas. Primeiro, não me baseio em expectativas e a vida já me mostrou o quanto elas podem ser frustradas. Segundo, num mundo de relações “fluidas”, até saber o que almeja é “exigência” demais. Ponto. Terceiro, me libertei do medo de intimidade e de sofrer por alguém.

Aprendi a ter leveza. Compreendi que existem pessoas boas no mundo; que a conexão também parte do diálogo e do olhar; que tenho defeitos e os acolho; que ninguém tem obrigação de ler meus pensamentos; que é bom dividir a alegria e o brigadeiro de colher… Não um príncipe encantado. Um ser humano tão normal quanto eu!

E em tempos onde os valores mudaram, querer ter conexão é caro. Não é leite morno que esquente no fogo. Não é simples e puro sexo pelo sexo (energia sexual é troca, baby. Use-a com moderação!). É a conexão não-binária, onde os olhos se entrelaçam, as conversas adentram a madrugada e o cheiro da pele rescende até os âmagos da alma. Nem menos. Nem mais.


*@isa.amate, 33. Criatura errante(rs) e terapeuta Integrativa em construção.

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