O devaneio é primo distante do dom

Natascha Duarte escreve o texto  "O Devaneio é primo distante do dom"
Foto: Depositphotos

*Natascha Duarte

Sentou-se para escrever e não encontrou nada. Estava vazia. Nenhuma inspiração ou sentimento nobre, nenhuma personagem com vida própria. Só cansaço. Precisava de algo para não frustrar sua vaidade e precisava rápido. Como num socorro veio o ímpeto, um vislumbre de algo etéreo que se ela pudesse intensificar sendo intimista, e assim o fez, renderia algum prazer à escrita.

Correu ao teclado agradecendo a intuição que recebera e fingiu não ser mais um déjà-vu de alguma coisa escrita antes: podia tudo aquilo ser falta de talento dependendo apenas do olho de quem lesse. Forçou o pensamento e não foi natural o desdobrar a partir daí: escrever nunca era natural para ela. Tinha vez que era um gosto de manhã. E tinha vez que era o chão. Será que perceberiam a diferença?

Queria falar da sua alma com alguém só que ninguém queira falar de alma de volta com ela.

Sabia-se incômoda, inconveniente ao afirmar que o dinheiro não importa, queria gritar, mas e sobre o amor? Sobre o amor podemos falar baixinho. Através do amor idealizado é que a bem-aventurança começa e nos diferencia dos gatos e coelhos, e então, aleluia: deveria ser fácil falar de amor embora a maioria não fale de seu mundo líquido.

O pensamento em frente ao computador, de tão pesado, fez sua cabeça tombar para o lado. Não gostou das linhas que escreveu e ver-se pequena a regozijou. Ofendia ao falar de sua alma? Era perigoso pensar no que escrevia como algo importante para alguém além dela mesma, e ainda assim, estava feliz e triste, com toneladas de vontade e vergonha.

Em conclusão, desistiria de tentar algum estilo e muitos foram os critérios que a fizeram querer abandonar as crônicas, até as que diziam da alma:
1) o ego de quem escreve aparece no texto
2) se ela ficar feliz por lerem suas sintaxes e quem as ler ficar feliz por ela ter escrito, estariam os dois felizes sem estar? Ou, você é capaz de ficar feliz de verdade por outrem?
3) a mulher não gosta de pensar em nada por inteiro porque em tudo vê peças faltando.

Alguém aí teria sido outra pessoa se pudesse escolher? A resposta é sempre não. Já na ficção seria mais divertido?


*Meu nome é @natascha.duarte, sou formada em Fonoaudiologia pela PUC Goiás e em Relações Públicas pela UFG. Casada com Silvio Quirino, fotógrafo publicitário. Temos uma agência de produção de áudio visual e de estratégias políticas e de varejo. E dois filhos, Miguel de 13 anos e Benício de 8. Sou mãe em tempo integral e minha paixão é escrever. Tenho o blog Natascha Duarte – Livre pensar (@contos.da.natascha), onde compartilho meu livre pensar e alguma inspiração literária. Mudamos para uma cidadezinha nos arredores de Goiânia, Goiás, há um ano.

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