Identificando as barragens emocionais

Sarah Nascimento no blog Vida de Adulto
Foto: Pixabay

*Sarah Nascimento

No momento em que escrevo esse texto, sinto-me abatida e com um forte aperto no peito, que começou ontem cedo. Por ter um trabalho que me exige um acompanhamento diário do noticiário, há momentos em que me desligo completamente das informações sobre o mundo exterior.

Foi assim que, de férias, não soube, em tempo real, da tragédia em Brumadinho, tampouco da morte do Yuka, o Yuka!!! Nem, tempos depois, do incêndio com meninos do Flamengo.

Na segunda, porém, a rotina foi logo interrompida pela notícia da morte do jornalista Ricardo Boechat. “Estava doente?”, perguntei assustada ao meu colega de trabalho. “Não. Foi um acidente de helicóptero…”. Susto, tristeza, incompreensão.

Meu dia se seguiu com encontros bem gratificantes, tirando minha atenção do tema. No outro dia, no trabalho, deparo-me com um apelo, no Twitter, devido ao curto intervalo entre as tragédias: “Precisamos de tempo para chorar nossos mortos”. Fechei os olhos. A ficha caíra. A dor no peito era o luto, eram as lágrimas pedindo passagem. Consenti.

Uma camada da tristeza era a compaixão pelos mortos e familiares, outra, era pela minha perda mesmo. O mundo, como eu o conhecia, era composto das pessoas que seguiam suas vidas em torno da barragem, do Yuka transmutando sua dor em arte, dos meninos sonhando em ser craques no Flamengo e do Boechat que me inspirava pela coragem e alegria.

Tudo mudou. Acordei em outra realidade.

Cada pessoa que chega neste mundo e cada pessoa que se vai nos impacta direta ou indiretamente. Quem não vive na anomalia do homem normal, a normose, segundo o reitor da Unipaz, Roberto Crema, não tem como não se perceber afetado!

Assim, se não nos recolhemos, se não elaboramos esses processos de nossa vida entrelaçada, ocupando-nos para não pensar, não sentir, o corpo somatiza e adoece. Hoje, meu luto se transformou em lágrimas e neste texto. A respiração voltou a fluir… Há lutos que você evita acessar? Há barragens emocionais prestes a se romper?

Mariana e Brumadinho ensinam – o efeito é devastador.


*@sarahnascimento.evolucao é uma das fundadoras do Vida de Adulto. Atualmente participa como colaboradora.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *