Serena idade
Adolescente que fui, sonhei ser modelo
Nunca me encaixei nos padrões
Que padrões?
Quem poderia apontar pra minha testa larga e dizer que ela é imperfeita?
Ou tentar alisar meus cabelos porque eles encaracolam a perfeição?
Quando o sonho não era mais sonho, virou realidade
Aos 46, fui modelo
De uma manhã, de mim mesma
De mulheres que escondem suas rugas porque vêem nisso um defeito
Cada traço no meu rosto, uma história nem sempre em linha reta.
Assumir a velhice
E existe isso?
Esconder a idade
E tem como?
Velha é linda.
É o meu olhar que me dá a fórmula da beleza
A capa ainda me veste
Mas sinto que, a cada dia, vou me desfazendo do que me cobre
Me reconhecendo, na essência, quando fecho os olhos
No escuro das pálpebras cerradas, eu me vejo
Flutuando
Consigo levitar dentro de mim depois da faxina feita
Por muito tempo, cuidei do corpo e só do corpo.
Por dentro, intoxicada
Não conseguia sequer dormir direito porque era lixo pra todo lado.
Corpo, corpo
Daqui a um tempo, vamos nos despedir.
Venho cuidando bem de você
Morada de minh’alma, abrigo do meu espírito.
Corpo que me sustenta em passos firmes, remadas longas, vôos livres.
Não te esqueço, não me apego.
Sim, me sinto bonita
Mas extraí da frase feita o profundo significado
A beleza vem de dentro.
E se ela vem de dentro, não há validade
Por fora, serenidade
Serena idade.
*@tacianacollet é jornalista e uma das fundadoras do Vida de Adulto.
Sem palavras para agradecer a Mônica Severo, que fez esse convite de modelo não só pra minha autoestima, mas pra mulheres remadoras de diferentes idades, perfeitas em si mesmo. Todas elas estão na sequência de fotos. Vestimos joias únicas da natureza. Elemento água. Meu universo da canoa havaiana, meu habitat.
Mahalo!