Mãe de uma
Sou mãe única
De uma filha única
Não tenho só uma
Eu tenho uma e ela não é só
Não foi fácil decidir ser mãe de uma
O padrão é ter um irmão
Mas o padrão (sem muita escolha) já foi ter dez
O padrão quando nasci era de três
Então minha escolha não teria de ser pelo que dita a maioria.
Sua filha não vai ser tia
Será mimada
Será sozinha
Quem vai cuidar de você na velhice?
Não vai dar pra ela um irmão?
Sentenças, profecias e cobranças não me faltaram.
Eu devolvia as perguntas pra mim mesma, reformuladas:
Quem garante que irmãos serão amigos?
Quem garante que viverei pra dar trabalho?
Mas e eu? Eu queria ser, verdadeiramente, mãe de dois?
Ou queria dar de presente pra minha filha um irmão?
Jogada na cara, foi essa pergunta que me fez decidir.
Não entendo que filhos venham ao mundo embalados pra embrulho como brinquedo de Natal.
Minha escolha não poderia ser baseada no outro por mais egoísta que soasse pra mim.
Como seria ter outro se eu não queria?
E não preciso explicar os motivos como se carregasse uma culpa de mãe incompleta.
Tento eu mesma ser um presente pra minha filha.
Sendo mãe inteira na maternidade única.
Tentando ao máximo interferir o mínimo para que ela seja quem veio ser.
Sou um presente meio desembrulhado, amarrotado, estufado de amor.
Não me disfarço com fita vermelha para parecer quem não sou.
Mas não me cobrem como se devedora fosse.
Mãe de uma que me faz sentir ímpar.