Desconforta

Foto: Pixabay

De vez em quando, o passado bate à porta 
Sem convite 
Quase intruso
Age como se fosse presente 
Escancara minha sombra.

Desconforta

Espio pelo buraco da fechadura com receio.
Lá está uma parte de mim pedindo pra entrar
Mesmo insegura, decido abrir
Não, não sinto vergonha de ver quem também sou.
Vou dizer o quê?
Que aquela não existe?
Que eu já sou outra e a que vejo não faz parte mais de mim?

Quem sou eu pra me negar?
Sou também aquela que bate à porta
Faminta, vulnerável, dependente.
Não vou tripudiar, como a vaidade gostaria, só porque agora me sinto satisfeita.

Não é piedade também o sentimento
Mas o que vejo não me perturba mais, não agora
O passado ainda ali, à espera do convite pra entrar
Que eu não me engane, aquela imagem sempre vai me acompanhar 
Não faz parte do passado, é presente e será futuro.

Fecho silenciosamente a porta e deixo ir.
Não há nada a ser dito
Nenhum argumento a considerar 
Já nos conhecemos bem e não preciso me esconder
Sabemos onde cada parte de mim habita
E o que alimenta cada uma
Questão de bem conviver sabendo uma da existência da outra.
Ilumino.

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