Eu caso e descaso com eles
Eu tenho uma teoria cá muito minha
A gente não escolhe o livro que vai ler
O livro é que escolhe a gente
Experimento entrar numa livraria como quem chega a uma festa
e me deixo ser conduzida
Converso com uma capa, viro a contracapa
De olho na orelha de outro
Até que um me tira pra dançar.
As páginas folheiam um balé com minhas mãos
Quando vejo, já fui levada por uma valsa inteira
O alfabeto desenha a coreografia perfeita
e era justamente aquilo que eu precisava ler.
Paro de correr os olhos, abraço o livro.
Esse vai pra casa comigo
Dormirá ao meu lado, me sussurrando frases que levarei pros sonhos.
Vou conhecendo seu cheiro, textura
e isso nos deixa íntimos
Devoro trechos com a avidez de uma primeira vez
Seguimos bem juntos
Entristeço quando sinto que nossa relação está pra acabar
Passo a ler tão devagar que cada parágrafo vira capítulo
Leio e releio a mesma página como se não houvesse final.
O último ponto aparece e pareço órfã
Não aceito o fim e, no criado ao lado da cama,
vai nascendo uma pilha de relações bem-sucedidas.
Até que chega uma hora que percebo a hora de deixar partir
Se foi bom pra mim, que siga adiante
E afete o próximo
Não empresto livro
Simplesmente deixo que ele escolha outro
Eu caso e descaso com eles.