O que a vida espera de mim?
Imagino que me tiram tudo, a começar pelo direito de vir e ir. Sou arrancada da casa onde moro. Trabalho, mas não me pagam. O alimento vem em pequenas porções uma vez ao dia. As roupas viram trapos. O meu próprio corpo vai me sendo tirado porque, nessas condições, definho. Sou afastada de todos e tudo que amo. Nessa situação-limite, ainda conseguiria ver sentido na vida? Ainda assim teria liberdade?
As respostas a seguir não são minhas, mas de Viktor Frankl, psicólogo e médico que esteve como prisioneiro em quatro campos de concentração nazista durante a segunda guerra e sobreviveu para contar. Com o livro dele “Em busca de sentido”, entrei em Sachsenhausen, campo de concentração que funcionou de 1936 a 1945 na Alemanha.
Em cada lugar desse lugar, estive acompanhada pelo pensamento do escritor. “No campo de concentração, podem privar a pessoa de tudo, menos da liberdade última de assumir uma atitude alternativa frente às condições dadas.” Frankl fala sobre a liberdade espiritual do ser humano que lhe permite desenhar sua vida para que tenha sentido até o último minuto.
E em momentos de desespero, o que ainda esperar da vida? O fundador da logoterapia nos convida a dar uma viravolta nessa pergunta. A questão deve ser voltada pra nós: “O que a vida agora espera de mim?” De cada um, a vida vai exigir algo único. Nenhum destino se repete, nenhum ser humano pode ser comparado a outro.
“Quando um homem descobre que a vida lhe reservou um sofrimento, tem que ver nesse sofrimento também uma tarefa sua, única e original.” No campo de concentração, nada disso era especulação inútil sobre a vida. Quando não se via mais chance de escapar com vida, o sentido estava também na morte. A maior das coragens, diz ele, seria justamente a coragem de sofrer.
Mas não é necessário sofrer para encontrar o sentido da vida. Frankl insiste apenas que o sentido é possível mesmo com o sofrimento inevitável. “O sofrimento de certo modo deixa de ser sofrimento no instante em que encontra um sentido, como o sentido de um sacrifício.”
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O que a vida espera de mim?