Sobre homens que somem
Quando eu era jovem adulta testemunhei um homem indo embora e deixando a namorada grávida porque tinha engravidado também uma ex. E decidiu construir família com a ex e sumir da vida da namorada, lembremos, grávida.
Logicamente não podemos julgar as escolhas amorosas. Todo mundo tem o direito de terminar um relacionamento, de optar por outro. Mas ninguém tem o direito de sumir, principalmente quando deixa um filho para trás.
Eu também vivi um desaparecimento masculino. Conheci Tiago durante as eleições. Ele era secretário da seção onde eu era mesária. Me convidou para sair no mesmo dia e desde então passava grande parte do meu tempo comigo. Me levava para a universidade, para almoçar, de tarde ia para a minha segunda faculdade para passar o intervalo comigo. Ia na minha casa. Viajou com a minha turma de amigos. Um namorado grude.
Meu coração é do tipo “portas abertas”, então deixei. Só não imaginei que do nada, depois de alguns meses de convivência intensa, sem nenhum motivo, atrito, briga ou discussão, Tiago iria sumir do mapa. Não estávamos ainda na era da telefonia celular, então só me restava ligar para a casa dele e deixar recados. “Tiago não está. Tiago saiu. Tiago está dormindo. Tiago ainda não voltou. Tiago acabou de sair de novo”.
Me dei conta que Tiago não tinha me permitido entrar na vida dele. Nunca me levou na casa dele, eu não conhecia os seus pais. A partir do momento que ele cortou laços, eu não tinha mais acesso nenhum a ele. E nunca mais nos vimos. Minha família e meus amigos me perguntavam: “Cadê o Tiago?”. Eu só dizia a verdade: “Sumiu”.
Tenho certeza que não perdi o homem da vida e não acredito que teríamos um longo relacionamento. E graças a Deus não me relacionei com outros Tiagos. Mas já ouvi dezenas de histórias de Tiagos. Ele plantou em mim um questionamento eterno. Por que algumas pessoas acham que podem simplesmente sumir? Tiago, tenho uma coisa para te dizer: “Vá, mas primeiro me conte”.
Foto: Pixabay
Tags: relacionamento escrever