Homens são todos iguais
Sabe qual foi a primeira vez que pronunciei essa frase? Aos doze anos. Nem eu acreditei. Ao reler meu primeiro diário, lá estava a sentença clichê. De onde ouvia isso? Será que eu escutava, escondida, as conversas das mulheres que me rodeavam? Era assunto com minhas amigas?
Apesar de não me enxergar aos doze anos escrevendo isso, minha letra não me deixa mentir. Confesso que era metida a namoradeira, mas será que os meninos eram todos iguais? Fico pensando em hipóteses. Talvez eles fossem iguais porque nenhum quisesse namorar muito tempo comigo. Decerto porque quem eu queria não me queria. Ou quem sabe seria a força da imagem de perfeição que eu envolvia meu pai. Hipóteses.
Com uma letra ainda infantil de quem acaba de entrar na adolescência, escrevo as razões do fim de um namoro de uma semana: “Há um problema entre nós dois, brigamos muito, mas no fundo acho que existe amor.” Lendo essas páginas 34 anos depois, sinto que repeti frases já feitas, sem questionar, por tempo demais. Vez ou outra, ainda escapa da minha boca: só muda o endereço.
Se todos os homens são iguais, então tanto faz com quem eu namore ou case. Se todos são iguais, tenho de aceitar como são porque todos são assim. Se um me maltrata, todos vão me maltratar, se um não me respeita, todos vão me desrespeitar. Afinal, são iguais, todos eles.
Pode chegar uma hora que eu comece tanto a acreditar na sentença que, se todos são iguais, vou me igualar. Ninguém usava a expressão na época, mas passei um período da adolescência em um relacionamento abusivo. Nos diários que escrevi até os 20, há uma aula de como não se relacionar. Era machucada e, machucada, machucava pra ficar… igual.
Relendo os diários e revisitando velhas certezas que não são minhas. O que são ideias já pensadas, o que é meu verdadeiro pensar e o que é o pensar de outro? Consigo pensar por mim?
Fico imaginando o peso que é para um homem provar que não é igual. Ou mesmo o que é para um homem ter de repetir um padrão de comportamento só pra provar que é homem, igual. Pensando por mim, diria que não, eles não são iguais. E não ser igual não significa ser perfeito nem o príncipe encantado. Os homens são sim, todos imperfeitos, assim como eu e você.