Parir o filho para o mundo
*Mariana Londres
Há 40 dias a minha vida se transformou em uma expectativa. Tento disfarçar, tento me distrair, mas sinto uma corrosão lenta e leve por dentro, maquiada por um sorriso no rosto. De repente, as lágrimas escorrem quando estou sozinha no carro, enquanto escrevo, ou debaixo do chuveiro.
Desde o ano passado planejamos o intercâmbio do nosso filho de 16 anos. Fizemos todo o processo e já sabíamos que as informações sobre a família que o receberia e onde ele iria morar por um ano chegariam em cima da hora. Mas o tempo passa e as informações não chegam.
Tive mais de nove meses para me preparar para o ninho vazio. Achei que seria atropelada pelos acontecimentos, mas foi a espera que me atropelou. Eu já me sentia pronta. Chegou a hora da decolagem, mas o pássaro não levanta voo.
Eram três embarques possíveis, entre o início de agosto e o início de setembro. Chegou setembro e nada. A burocracia americana atrasou o processo. Só faltou combinarem com a gente e com os nossos nervos.
Sempre defendi o intercâmbio raiz, à moda antiga, aquele em que não escolhemos o destino. A organização, sem fins lucrativos, acha o melhor “match” e te leva a algum lugar que você mesmo nunca pensaria em escolher. “É como nascer de novo”, eu falo para o nosso filho e para todos que me perguntam insistentemente para onde ele vai afinal. E quando afinal.
Me sinto novamente grávida. Só que a minha gravidez de verdade terminou duas semanas antes do planejado. Não tive tempo de espera. Hoje sou uma grávida de 44 semanas prestes a parir o filho para o mundo carregando uma agonia: “Esse menino não vai nascer, meu Deus?”
Olhamos para o mapa dos Estados Unidos como se fosse uma página em branco. Tudo é possível. Alasca? Havaí? Texas? Delaware? Apesar do compasso de espera, me agarro a algo que descobri há alguns anos. Temos a mania de querer planejar tudo, de traçar o nosso destino. Mas muitas vezes, o melhor caminho é o que não traçamos. É o que nunca tínhamos imaginado. Agora, novo aprendizado. O caminho pode incluir uma espera.