Casa vazia
*Mariana Londres
Entro em casa e em vez de encontrar a felicidade no caos, me deparo com o silêncio e a paz, a nobre ociosidade, e a solidão (de que somos indignos, como já escreveu Collete).
Passei 19 anos enchendo a minha casa: marido, enteado, filho, cachorro, funcionários pra me ajudar enquanto eu trabalhava, crianças e amigos. Agora tenho que lidar com o vazio. Não é o vazio completo. É o esvaziamento.
Pra distrair a cabeça arrumo armários no meu tempo livre, tempo que ganhei de repente. Tempo que me faltava. Agora, me sobra.
A ansiedade nunca me deixou lidar bem com o tempo livre, com o nobre ócio. Arrumar armários parece ainda uma metáfora para o que faço na terapia.
Quando sentei no sofá do terapeuta, depois de anos, a minha sensação não era a de estar abrindo gavetas, mas a de que um armário inteiro caía sobre mim. Agora preciso reorganizar tudo.
Ganhei nove meses de ninho vazio pra me reencontrar. A maternidade é maravilhosa, mas tão intensa que te faz perder um pouco a identidade. Comigo foi assim.
Sinto a casa vazia como uma oportunidade: em nove meses estará cheia de novo, e acredito, meu coração completo e reorganizado. Enquanto isso, espero a volta do meu amor que mora longe, com saudade.