A vida em cores naturais
*Maria Beatriz Capocchi Penetta
Há poucos anos, decidi assumir os meus cabelos brancos. Foi a libertação daquele ritual que, aos 40, eu enfrentava mensalmente. Aos 45, a cada 20 dias. Aos quase 50 anos, de dez em dez dias, lá estava eu, aguardando o tempo interminável durante o qual as minhas madeixas se tornavam impecavelmente castanhas.
Daí em diante, após um período de arco-íris capilar, foi surgindo uma cabeleira sedosa, brilhante, naturalmente mesclada de castanho e branco naturais. Claro que a transformação do visual não agradou a todos. Foram vários comentários e olhares de estranhamento.
Mas o estranho mesmo (no sentido positivo), foi o impacto interno causado por essa decisão. O brilho passou a ser por dentro também! Acompanhado de contentamento, orgulho, e autoconfiança crescentes. Pelo “simples” fato de poder ser o que se quer, independente da opinião alheia.
E esse foi só o primeiro de vários NÃOS.
Fui descobrindo quantos SINS existem numa decisão em que nos negamos a seguir a vida no modo automático. Estou com o saudoso Raul Seixas, sobre sermos uma metamorfose ambulante. É preciso aprender a apreciar as mudanças pelas quais passamos no decorrer da vida. E tomar as rédeas de cada nova fase.
Mudamos de opinião, de vontades, de hábitos. Mudam a cor dos cabelos, o tamanho das letras, o tônus da pele, os números da balança. Claro que haverá sofrimento, novos desafios, mais aprendizado. E isso é um presente! Para podermos experimentar o novo, com a maturidade e a leveza que passam a fazer parte de nós. Se tornam raízes sólidas.
Disso decorrerão outros NÃOS, acompanhados dos respectivos SINS. Com mais coragem ainda (e sempre com aquele medo clássico, que nenhuma maturidade afasta).
Por isso, quando vierem momentos sem viço, ressecados, com raízes brancas, se tivermos paciência e formos generosos conosco, em breve nossa vida estará novamente linda, sedosa, hidratada, com cores naturais.
*Aqui o pequeno resumo sobre mim: sou mãe, boadrasta, advogada em transição de carreira. A leitura e a escrita afetuosa fazem parte do meu dia a dia. Minha página de textos afetuosos é @caminhandoagenteve no Instagram.