Mayra Cardi e a nossa alegria triste
A influencer @mayracardi dominou as redes sociais nas últimas semanas. Ao contar sobre a descoberta das traições do ex-marido e confessar que vivia um relacionamento abusivo, recebeu acolhimento, mas também muitos julgamentos. Não ouso condená-la. Sei o que é viver uma relação tóxica e ter dificuldade para colocar um fim nela.
Mayra está sendo acusada de ter passado anos publicando fotos que simulavam uma felicidade conjugal inexistente.
Não acredito nisso. Houve momentos felizes, mas como sempre acontece nos relacionamentos abusivos, era uma alegria triste. Cada minuto de contentamento é tão suado e precedido de sofrimento, que precisa ser muito celebrado, para que a gente se engane que pode dar certo.
Ela também foi acusada de ser “burra”, mas não se trata de falta de inteligência. É que não queremos acreditar que, apesar de falar uma coisa, o outro faz o contrário. Que embora ele jure ser leal, mente sem culpa. Que quem diz “eu te amo” uma hora, te humilha na outra. Que quem parece torcer por você, na verdade te sabota.
Dói demais aceitar que o outro não nos respeita e enxerga.
Que há algo tão adoecido em nós, que necessita dessa dor para se sentir vivo. Que aprendemos a associar amor a sofrimento. Que não acreditamos merecer afeto. Que, mesmo nos fazendo muito mal, não temos força para tirar essa pessoa da nossa vida.
Eu não faria uma exposição pública como ela fez. Sou do time das que preferem desabafar com as amigas e o terapeuta. Apesar de não concordar com o método, sou capaz de compreendê-lo. Ao contar para todo mundo sua história, Mayra está se protegendo de si mesma. Está criando uma narrativa capaz de freá-la, todas as vezes que ela pensar em voltar atrás.
“Hoje não tenho um coração, tenho um buraco negro, perdido, assustado, com medo”, postou ela. Não desista, Mayra. Com paciência, determinação, apoio e autoconhecimento, vai passar. E quando isso acontecer, você poderá enfim viver a alegria feliz, aquela que corresponde exatamente ao tamanho do sorriso no seu rosto.
*@fabriciahamu é uma das fundadoras do Vida de Adulto. Escreve às segundas-feiras, duas vezes por mês.