Tempo de recolhimento
Reza a lenda que para o novo chegar é preciso que se abra espaço. Quando falamos em objetos físicos, usamos a expressão descartar o antigo, doar. Desapegar.
E para as coisas da alma como faz para abrir esse espaço? Aqui a coisa fica mais séria não é? Dói no peito. O Grande Medo aparece. O fantasma do vazio fica rondando…
Vivenciei isso nesta semana e sabe o que descobri? Que eu já vivo aquilo que por muitos anos eu mais temia: ficar dentro de casa. Acreditava que ficar em casa iria me desconectar do mundo, dos amigos, da família. Temia ser esquecida, não ter o que fazer, não preencher meu espírito de coisas novas. Temia não ter o que aprender e o que oferecer ao mundo… Então chega uma pandemia para me colocar exatamente nesse lugar.
Realizar os fechamentos necessários é uma tarefa delicada.
Pode levar algum tempo para encontrar o jeitinho de fazer de forma amorosa com você mesma e com a pessoa ou situação envolvida. E, em geral, após fechar uma porta será necessário um tempo de espera para abrir outra (ou a mesma).
Gosto de me inspirar com a sabedoria da natureza. Você já se deu conta de que entramos pra casa no outono e estamos em pleno inverno? São tempos que vem nos falar de recolhimento, de introspecção, do que é lento, sutil. Tempos daquilo que cai, do que é semente. Voltamos a ficar ao redor do fogão, enrolados nas cobertas e roupas mais quentinhas.
Depois do tempo de recolhimento, há o tempo de florescer. Que possamos nos preparar e abrir espaço para receber a primavera!
*@ivone.lopes_psi é psicóloga, crocheteira e envelhescente procurando olhar para a maturidade com sentido.