Falta de quê?

*Carolina Martins

Um barzinho com os amigos faz falta.

Um almoço despretensioso de domingo com a mesa cheia de parentes – mesmo daqueles que a gente nem tem muita afinidade – faz falta também.

Andar no supermercado e pesquisar produtos nas prateleiras sem se preocupar com vírus… putz! Fazer compras era chato, mas era muito mais legal.

Roda de samba.
Cerveja gelada no copo do boteco.
Catuaba com uma pedra de gelo de origem completamente desconhecida.
Amizade de banheiro aglomerado.
Sinto muita falta!

Era um dia chuvoso, confinado, em que eu tentava identificar qual era aquele sentimento incômodo, dolorido, que me fazia companhia.

Saudade? Bom, isso tem mesmo. De muita coisa, de muitas pessoas, de muitos lugares… mas, essa é velha conhecida.

Essa “falta” é diferente… é quase físico.

Peraí! É físico mesmo!
É falta de toque! De sentir gente!

É falta de abraço!

Que saudade de um abraço! Demorado. Quentinho. Confortável. Com suspiro e cheiro bom no pescoço. Sem máscara. Sem barreiras físicas ou sentimentais.
Uma entrega em forma de abraço.

Tem nome pra essa falta?

Eu sempre fui de abraços. Coração com coração. Cabeça deitada no ombro do abraçado. Dois minutinhos curavam um dia inteiro de aporrinhação.

Sou de abraços e de todos os derivados. Cafuné. Conchinha. Mãos dadas. Muito afeto. Tudo isso que agora está sanitariamente distante.

Bom, o afeto ainda está liberado. Use sem moderação.

E se você está quarentenando acompanhado, não regule abraços.

Aliás, fica a lição: não regule nada que é bom e faz bem. Nunca se sabe quanto tempo vai durar.

*@cortisolalterado mantém o @cortisolalterado como forma de se compreender – e aproveita para dividir as epifanias com quem também se interessa por elas. É jornalista, estudante de História, mãe do Murilo e co-fundadora da Cassangue Produções.