Estado Bruto

Camila Anllelini no Blog Vida de Adulto
Foto: Pexels

*Camila Anllelini

Nem tudo que mora
em mim é flor
Às vezes me apresento
pelas vísceras

A doçura dos lábios se funde
com o olhar ácido
de lanças em punho
Meu estado bruto é duro

Vez em quando me tranco
pelo lado de fora do mundo
pra ouvir as vozes
que correm no peito

A medida que crescem os vazios,
me transformo em cama

Prefiro ser barco, continente, vento
Tempestade, concreto, café quente

Mas tem dias que quero
amolecer até me fazer líquido
que escorre pelo ralo

Me desmontar e guardar
na gaveta até reaprender
a respirar a vida dos pés ao cabelo.


*@gentepossivel é escritora, mestranda em Resolução de Conflitos e Mediação pela Universidad Europea del Atlántico e estudante de psicanálise. Acredita na palavra que desenha afetos, em um desfazer-se constante para encontrar novas formas de estar no mundo. Reconhece na escrita antídoto para as urgências que roubam a beleza dos dias.

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