Me preparo para o que há de vir

*Taciana Collet

Eu vivia pedindo pra vida pra poder viver um parênteses. Interromper o curso do planejado pra mim (viver neste intervalo o não-vivido e desejado) e depois voltar ao que era antes, sem perdas ou danos. Um parênteses mesmo, que não interferisse em nada e pudesse ser retirado da história sem ser notado.

Com o que se pede ao Universo, é preciso ter cuidado. Sem ter consciência, mas com um desejo latente, consegui abrir esse parêntese. (Um espaço de tempo de sete anos coube dentro dele). Mas o que se pede nunca é atendido exatamente da forma desejada, vem no formato pra encaixar um aprendizado. O parêntese se abriu, mas a vida seguiu fora dele, independente de mim.

Cortar o cabelo bem curtinho, como eu usava antes desses parênteses, foi simbólico para que eu percebesse minha volta.

Olho para o espelho como se tivesse reencontrado uma amiga que não via há tempos. Tanto tempo que ela agora exibe os fios brancos. Nossos olhos se encontram marejados. Somos a mesma, mas não somos mais quem éramos.

Volto fechando o ( )! Poderia ter escrito minha história sem ele e abreviado um capítulo, mas aí… talvez reticências ficassem pontuando na minha tela. Diria que a vida foi paciente comigo. Não me esperou, mas permitiu que eu voltasse. Não sem perdas, mas houve ganhos. Não sem danos, mas houve frutos.

Reconheço o que não sou mais para que o novo nasça. Porque quando um ciclo se completa está na hora de nascer. O que estava pronto pra partir se foi. Não mais invejo minha juventude porque tudo que nasce transborda de frescor e inocência. Pelo intervalo de um (talvez necessário) parênteses, deixei a vida me levar. Agora eu a devolvo pro cursor da sua história. Me preparo para o que há de vir.


*@tacianacollet é uma das fundadoras do Vida de Adulto, escreve às sextas-feiras, duas vezes por mês.

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