Nas horas todas busco equilíbrio
Paro sempre nesse ponto: pé querendo dar outro passo.
Meu andar carece de comando, pouca pressa, tempo aberto. Carece de chão firme, bengalas, fé. Uma forma de me segurar em mim mesma.
Algumas coisas precisam ser repetidas incessantemente. Ainda assim, vez em quando, pé firma na linha do nada. Aí, mundo balança e a gente cai. Tombo leve ou tombo de quebrar o pé, machucar desejos e ralar com força as vontades. Tombo sozinha ou tombo com muita gente pra ajudar. Tombo de morrer de vergonha, caído em cima do cocô de cavalo em plena rua do comércio na véspera de natal.
Meu andar me ensina a não disfarçar imperfeições. Me provoca a encontrar jeitos, inventar alcance. Ter novas percepções de caminhos e caminhares.
Aprendo. Mas, vez em quando, esqueço. Então, escrevo.
Andar é exercício a ser feito todo dia. É movimento que sai de mim pra ganhar mundo. Pouco importa se meus pés toquem o chão ou flutuem nas rodas de uma cadeira.
Amar é exercício a ser feito todo santo dia. É movimento que escolho fazer ao plantar uma palavra, ofertar um café, respeitar passos e caminhos diferentes do meu ou quando escorre uma alegria da boca na lembrança de chegar em casa cheirando a cocô de cavalo.
Ser é exercício a ser feito todo dia, todo santo dia. É movimento que transborda medos, questões, dores. Mas também rompe limites, alarga margens e constrói passos e caminhos melhorados e inclusivos.
Meu andar me ensina a não temer as pedras, tampouco os caminhos abertos. Me ensina que posso exercitar, amar, ser, respeitar, guiar e ainda assim, não posso controlar. Vida é sempre inesperada e incontrolável.
Leio em voz alta enquanto convido o pé a outro passo. Avanço
Viver é equilibrar.
Viver é ajudar alguém a se equilibrar.
*Meu nome é @re.minas, do @quintalcomjanela. Sou uma plantadora de palavras. Mãe do Renato. Pessoa com Deficiência (PCD). Amante de azuis: céu, mar e alma. De verdes, crianças e caminhos. Uma mulher que muda, faz mudas e acredita no possível de cada pessoa e no humano de cada ser.