Mulher de fases
Cheguei à conclusão que complico demais porque quero ser perfeitinha. Talvez melhor me defina “mulher de polaridades” pela intensidade com que faço pautar tudo que me envolve. Mergulho com facilidade no 8 ou 80. Mudando de pólos, já dei voz e vez a várias versões minhas. Vivi as personagens que escolhi sem me censurar pelas escolhas. Talvez por isso nunca pensei em apagar fotos antigas porque olho para o passado como professor.
Quando escolhi ser jornalista, saí debaixo da proteção dos meus pais e me mudei para a “cidade grande” aos 15 anos. Quando nasci mãe, deixei um emprego em um grande jornal para me dedicar a minha filha. Quando decretei que seria atleta, esqueci o que me cercava para conseguir remar cinco horas seguidas em uma canoa no lago Paranoá. Quando decidi meditar, larguei do corpo e quase virei budista depois de um retiro de silêncio com a monja Cohen.
Quando tudo foi perdendo o sentido, parei na terapia para descobrir em qual das fases havia me perdido de mim.
Quando decidi me conhecer com a ajuda da antroposofia, pemiti que minha sombra entrasse no palco e venho tentando jogar luz para acolher a imperfeita mulher comum que sou. É tanta vontade de querer ser algo que, não raro, me esqueço de viver, obcecada em busca da tal de perfeição. Sou única, mas isso não me torna especial ou diferente. Somos únicos e iguais.
Ao me investigar, descobri que a escrita era uma linha que me acompanhava desde a infância. Puxei esse fio e trouxe para o centro da minha vida. Se a escritora é mais uma fase? Só o tempo dirá e me vigio para que não me perca mais uma vez, esquecendo do sentido que move esse movimento.
Olhando minha biografia em retrospectiva, me vejo em busca do meu destino. E quando saio em busca dele, confio que ele vai me encontrar. Sinto que estamos nos aproximando e espero que, desta vez, seja no caminho do meio.
Todo essa introdução para contar que escrevi, com muita honra, a introdução do livro “Poesiaterapia – palavras que curam”. Quero agradecer ao Fernando Raine @poesiaemmonologo, organizador da antologia, pelo simbolismo do convite. A palavra tem sido mapa nessa caminhada. Palavra-sentido orientando a alma à procura de um norte.
*@tacianacollet é jornalista e uma das fundadoras do Vida de Adulto.