Adolescer da velhice
Vida de adulto é um título provocativo pra mim. Hoje o nome me veste bem, mas, até pouco tempo atrás, adulto, com todas as letras, não cabia no apertado vocabulário de quem não queria amadurecer.
É constrangedor admitir isso. Mas, nos últimos anos, para negar o início do processo de envelhecimento acabei entrando na minha segunda adolescência. Talvez mais complicada de sair do que a primeira.
A chegada dos 40 marcou pra mim o adolescer da velhice.
Coincidiu com perdas significativas que me levaram a enxergar, sem binóculo, a finitude da vida. Antes do ponto final, pensei, vou abrir um parêntesis para fazer o não feito. Como uma adolescente que se permite experimentar de tudo. Experimentei de quase.
Adolesci. Na luta por não me tornar invisível, transformei meu corpo no meu maior capital. Nunca estive tão em forma e igualmente tão infeliz. Uma zumbi existencial, ausente da minha própria vida, sem olhar meus lixos, mas trabalhada à perfeição nas redes sociais.
Sobrevivi para contar.
Caí, machuquei, cresci. Não necessariamente com a rapidez que possa parecer.
Agarrei na psicanálise, caí, levantei, caí de novo. Comecei a meditar. Machuquei, cicatrizei. Entrei num barco e remei sem fôlego, ferindo as mãos até calejar. Corri pra terapia de novo. Inventei um projeto offline para não me distrair da vida. Fiquei oito meses fora do Instagram e Facebook mergulhando em mim. Cansei e, esgotada, pedi paz.
Entre suspiros e quedas, encontrei pessoas também machucadas. Descobri que, só de saber que alguém passa pelo mesmo, ajuda a levantar. Então giro uma ciranda com mulheres para compartilharmos caminhos em busca do despertar.
Aos 45, consigo dizer que me assumi adulta, não completamente madura. Mas no ponto de tentar falar sobre isso. Sem a pretensão de editar um manual de como se tornar adulto em doze lições.
Até porque o aprendizado é um diário. Algumas páginas vou abrir aqui para vocês, ao lado de mulheres que também tiveram seus tombos e, cada uma do seu jeito, souberam se levantar.
*@tacianacollet
A sua espontaneidade me comove, Taci. Sempre corajosa e perspicaz. Você me inspira a levantar, e levantar… Lhe seguirei com prazer. Amo você minha irmã do coração. #elodosnossospais❤️