Luz e sombra em Paris

Foto ilustrativa do texto Luz e sombra em Paris
Foto: Pixabay

*Sarah Nascimento

Em 1996, aos 24 anos, parti como estudante au-pair em Paris. Era a minha primeira vez fora do Brasil. Meu primeiro voo de avião… Uma cena criada quatro anos antes.

No 2º ano da faculdade, eu, que vivia em um bairro modesto em Goiânia, fico sabendo que a amiga Lara interromperia o curso de Jornalismo para estudar na França por um ano.

Meus olhos brilharam. O fascínio tomou conta de mim, de um modo que, dentro da minha realidade, nada poderia justificar aquele interesse a não ser a ativação de um programa da minha alma. “Eu vou”, afirmei.

Dali em diante, todos os meus passos foram reorientados para esse fim. “Como seria o dia em que eu entraria naquele cartão postal?”, eu sonhava. “Você nem sabia bem o que iria fazer lá, apenas que precisava ir”, comentou, minha amiga Aninha. De fato. Era uma necessidade sem explicação.

A Lara voltou e eu ansiava por saber como tinha sido sua vivência. Continuei a sonhar. O tempo passou. Terminei a faculdade, mudei-me para Brasília. Quando, dois anos depois, um plano de demissão foi anunciado no meu então local de trabalho afirmei: “Chegou a hora”.

O que era para ser um ano, virou três. “Tá. E o que encontrou, afinal?!!”, talvez esteja se perguntando. Muita beleza, externa.

Sozinha, na Cidade Luz, acessei o tal vazio, carências, ausência de autoestima.

Voltei em 99, louca por segurança: casamento, casa, emprego fixo… !“Agora estou preenchida!”, celebrei. Só que não… Aos 40, o castelo de areia se desfez, marcado com o fim do casamento. As perguntas-portal chegaram: “Quem sou eu? O que busco?!”. Uma nova rota, a do meu mundo interior, então se abriu. É a alma desperta que preenche uma cidade, um relacionamento, uma casa, um trabalho. Não o inverso.

Este ano chego aos 48 anos e vejo voltando a mesma sede de liberdade dos 24. Como lembrou minha amiga Ju Melo, o Universo sempre nos oferece a oportunidade de refazer o caminho. Eu tive o mundo à minha disposição, mas não tinha a mim mesma. “Ainda estou confusa, só que agora é diferente. Estou tão tranquila e tão contente…”.


*@sarahnascimento.evolucao é uma das fundadoras do Vida de Adulto. Atualmente participa como colaboradora.

11 thoughts on “Luz e sombra em Paris

  1. Muito bom, Sarah, saber de onde viemos e onde estamos agora, diria, fundamental. Exercício de vida é isso, buscar a consciência possível do que nos acontece, ainda que só chegue depois. Beijos, saudades amiga.

  2. Linda história, Sarah! Nos mostra o quão é importante estarmos conectados com nosso eu superior para acertarmos em nossas escolhas. Não é fácil, mas o importante é que conscientes disso as respostas são identificadas mais rapidamente.

    1. Oi, Lili! Obrigada, querida, por sua contribuição! Sim, essa era a conexão que não havia, ao menos conscientemente…

  3. Interessante reflexão de alguns questionamentos que muitas vezes deixamos escondidos. Pois, o trajeto do autoconhecimento não é algo fácil, porém muito gratificante para o crescimento de cada sujeito.

    1. Oi, Elna! Quando esse trajeto começa é muito nebuloso, mas muito gratificante mesmo depois! Obrigada pela partilha, querida!

  4. Gratidão pelo texto simples e tocante, e por fazer parte de um pequeno trecho dessa história.
    Que o refazimento do caminho dê razão a muitos novos e belos textos!

  5. Muito bom, Sarinha. Pude acompanhar uma parte desse crescimento, e conheci poucas pessoas com tanta garra, com tanta energia para abraçar o novo e se reinventar. Parabéns, você merece.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *