Corre que lá vem tempestade
Não é do nada. O céu troveja avisos para não pegar ninguém de surpresa. As nuvens se carregam, um peso, pesadas. O azul se desbota em branco e preto. Mais preto do que branco.
Quando luzem os sinais, corro na tentativa de negociar com a natureza para acalmar a tempestade. Como resposta vem logo um raio, esbrajendo, seguido por um furioso trovão. Sem negociação.
Diante da negativa que me imobiliza, eu já desafiei tempestades e me joguei na chuva só pra sentir sua força. Mais de uma vez, ignorei alertas de perigo. Só pra sentir a adrenalina de estar no olho do furacão. Bem no meio das árvores, bem em cima da onda. Saí ilesa e nem era risco calculado. Descalculei mesmo. Era desejo de partir para o enfrentamento.
Quando a água escorre do céu em alta velocidade, não dá pra parar a tempestade. Parei de tentar. Então me abrigo e simplesmente observo a ventania sem controle. Sei dos estragos, mas, neste exato momento, nada posso fazer a não ser me acalmar de mim. Então observo e chego a ver beleza nos clarões que vão rasgando o céu. O estrondo não me assusta mais. A tempestade quer me ensinar algo. Então escuto. Vou acalmando até o céu se acalmar. Acalmamos juntos.
Pode demorar, mas uma hora passa. Tudo. Inevitavelmente. Impermanentemente. Que venha a tempestade, que venha a calmaria.