Você é maravilhosa, mas não te quero


Foto: Arquivo pessoal

*Renata Varandas

Qual mulher nunca ouviu essa frase: “você é maravilhosa, mas…”? Eu perdi as contas de quantas vezes fui obrigada a ouvir essa sentença de morte acompanhada de justificativas injustificáveis como: “eu não seria bom o suficiente pra você”, “não quero me apaixonar”, “não estou preparado para namorar você”. Meninos, me desculpem, mas mentiras sinceras só interessam ao Cazuza. A mim, a nós, mulheres, não. Obrigada. Aprendam que juntar “você é maravilhosa” e “não te quero” na mesma frase não funciona.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Convenhamos que ninguém abre mão de algo/alguém por não se achar merecedor. Nunca vi alguém recusar um emprego porque o salário era muito alto ou deixar de comprar um carro porque ele era confortável demais. Se há recusa, é porque não há vontade. Simples assim.

Quantas vezes me perguntei: “onde foi que errei?” Hoje, entendo que não há erro. Há escolha e a escolha é não se envolver. Estamos na era dos amores líquidos, de Zygmunt Bauman.

Em tempos em que nós, mulheres autossuficientes, que pagamos nossas contas, fazemos sexo só por prazer, escolhemos o vinho, levamos o carro na oficina, não aprendemos a cozinhar e optamos por (não) ter filhos, foi criada a teoria de que essa independência assusta os homens. Pra mim, não passa de mais uma maneira de simplificarmos e (novamente) nos conformarmos com o distanciamento deles.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
É nítido que nos tornamos cada dia mais egoístas, homens e mulheres. Se relacionar é compartilhar e dividir exige doação. Por que encarar um relacionamento, onde há sexo gratuito e contas a pagar, jantares a planejar e supermercados a fazer, se é possível ter uma série de relações baseadas apenas no prazer, no sexo, sem qualquer obrigação?

O problema é que uma hora a gente entende que esse amor líquido chega e vai embora com a mesma facilidade. Tentar segurá-lo nas mãos é certeza de sofrimento ao vê-lo escorrendo pelos dedos. De sólido, sobra somente o mais concreto sentimento de vazio. É quando a gente sente que bom mesmo é ter uma mão de verdade pra segurar, alguém pra ligar, um ombro pra deitar, uma vida pra compartilhar.

*Renata Varandas é jornalista de profissão e escritora por paixão. Aquariana típica, é uma eterna inconformada. Ama questionar, conversar, trocar. E também cachorro, chocolate, vinho e amar.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *